Tirinha DEUSES/ umsabadoqualquer
Ao entrarmos neste que será provavelmente o mais delicado tema de MIX, nos parece boa idéia recorrer à Etimologia. Assim, descobrimos que a palavra "mercado" vem do latim MERX -- que nada mais era do que "produto para negociar". Mas talvez isso não seja o suficiente...talvez precisemos de coordenadas mais científicas. Ludwig von Mises, líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, nos faz a gentileza de fornecê-las:
[...]
O mercado não é um local, uma coisa, uma entidade coletiva. O mercado é um
processo, impulsionado pela interação das ações dos vários indivíduos que
cooperam sob o regime da divisão do trabalho. As forças que determinam a
—sempre variável — situação do mercado são os julgamentos de valor dos
indivíduos e suas ações baseadas nesses julgamentos de valor. A situação do
mercado em um determinado momento é a estrutura de preços, isto é, o conjunto
de relações de troca estabelecido pela interação daqueles que estão desejosos
de vender com aqueles que estão desejosos de comprar. Não há nada, em relação
ao mercado, que não seja humano, que seja místico. O processo de mercado
resulta exclusivamente das ações humanas. Todo fenômeno de mercado pode ser
rastreado até as escolhas específicas feitas pelos membros da sociedade de
mercado. O processo de mercado é o ajustamento das ações individuais dos vários
membros da sociedade aos requisitos da cooperação mútua. Os preços de mercado
informam aos produtores o que produzir como produzir e em que quantidade. O
mercado é o ponto focal para onde convergem e de onde se irradiam as atividades
dos indivíduos.[...]
Como se vê, a Ciência se preocupou tanto em apartar essas escolhas, esses julgamentos de valor, de qualquer atmosfera mística (a ponto de erigir os pilares da Ciência Econômica) que hoje fica difícil relacionar um e outro: o Mercado e a Fé.
Mas... o que é Fé ? Embora existam vários credos religiosos no Brasil, é comum o estudo comparativo deles em relação à tradição judaico-cristã: via Bíblia.
No Antigo Testamento "Fé" é uma questão de "confiança". É preciso confiar nos acordos que Deus faz com a Humanidade. Assim foi com Noé, Abraão e Moisés: Deus mostrou-se fiel à Palavra empenhada.
Daí o conceito de HAYMANOOTHA, em Aramaico -- "Fidelidade". A relação Criador-Criatura Humana sempre baseou-se em pactos de mútua fidelidade. Usada no Novo Testamento, a palavra Fidelidade assume o significado de fé, credo, crença. Ela vem do radical aramaico, Amen, que significa firmar.
Ora, para que se tenha confiança em algo, ou alguém, é preciso que se tenha provas de que esse acordo é satisfatório. É preciso saber-se a Verdade sobre quem está diante de nós. É Renato Kress quem vai nos guiar pelo labirinto filológico do termo VERDADE.No Antigo Testamento "Fé" é uma questão de "confiança". É preciso confiar nos acordos que Deus faz com a Humanidade. Assim foi com Noé, Abraão e Moisés: Deus mostrou-se fiel à Palavra empenhada.
Daí o conceito de HAYMANOOTHA, em Aramaico -- "Fidelidade". A relação Criador-Criatura Humana sempre baseou-se em pactos de mútua fidelidade. Usada no Novo Testamento, a palavra Fidelidade assume o significado de fé, credo, crença. Ela vem do radical aramaico, Amen, que significa firmar.
Em grego a palavra para
‘verdade’ é aletheia e significa ‘o não oculto’, ‘não
escondido’, ‘não dissimulado’. O verdadeiro é o que se manifesta aos
olhos do corpo e do espírito, a verdade é a manifestação daquilo que é
ou existe tal como é. O verdadeiro, neste sentido, se opõe ao falso, ‘pseudos’,
que é o encoberto, o escondido, o dissimulado, o que parece ser e não é como
parece. Verdadeiro é o evidente, numa acepção quase ‘visual’ da palavra, o
‘verdadeiro’ é claro, delineado, estruturado, visível.
Em latim, verdade se diz ‘veritas’
e se refere à precisão, ao rigor e à exatidão de um relato, no qual se diz com
detalhes, pormenores e fidelidade o que aconteceu. Verdadeiro se refere, portanto,
à linguagem enquanto narrativa de fatos acontecidos, refere-se a enunciados que
dizem fielmente as coisas tais como foram ou aconteceram. Um relato é veraz ou
dotado de veracidade quando a linguagem enuncia os fatos reais. A verdade
depende, de um lado, da veracidade, da memória e da acuidade mental de quem
fala e, de outro, de que o enunciado corresponda aos acontecimentos. A verdade
não se refere às próprias coisas e aos próprios fatos (como acontece com a aletheia),
mas ao relato e ao enunciado, à linguagem. Seu oposto portanto é a mentira ou a
falsificação.
Em hebraico ‘verdade’ se diz emunah e significa ‘confiança’.
Agora são as pessoas e é Deus quem são verdadeiros. Um Deus verdadeiro ou um
amigo verdadeiro são aqueles que cumprem o que prometem, são fieis à palavra
dada ou a um pacto feito; enfim, não traem a confiança. A verdade se relaciona
com a presença, com a espera de que aquilo que foi prometido ou pactuado irá
cumprir-se ou acontecer. Emunah é uma palavra de mesma origem que amém,
que significa ‘que assim seja’. A verdade é uma crença fundada na esperança e
na confiança, referidas ao futuro, ao que será ou virá. Sua forma mais elevada
é a revelação divina e sua expressão mais perfeita é a profecia.
Diante de todas essas informações, como compreender um Mercado voltado para a Fé ?
Como relacionar dois conceitos tão díspares quanto o de "um lugar de trocas que envolvam produtos ou serviços"... e o de "Fidelidade sincera"... justamente em uma época onde aprendemos que é a dissimulação o que "vende" ?
Moeda/Euro do Vaticano
Como relacionar dois conceitos tão díspares quanto o de "um lugar de trocas que envolvam produtos ou serviços"... e o de "Fidelidade sincera"... justamente em uma época onde aprendemos que é a dissimulação o que "vende" ?
Como Profissionais de Comunicação, claro, aprendemos a ver a situação longe desse maniqueísmo... mas ainda assim é delicado quando se reflete sobre o motivo por trás dessa Aliança entre Deus e o Homem: Religação -- religar o Ser Humano à sua condição natural (pois posta por Deus como a original) de "angelitude" (conforme o termo ángelos: mensageiro). Um mensageiro do quê ? Da Vida... e da liberdade, da sabedoria e do amor que ela encerra em si.
É filosoficamente complicado enxergar o Mercado (qualquer manifestação sua) como um fenômeno promotor de mais liberdade, de mais sabedoria... de mais amor "verdadeiro". A "moeda", que devia ser instrumento de elevação moral entre os povos -- pois seu uso implica uma disciplina ética profunda -- em nossos dias é abismo no qual muitas almas se perdem para a Vaidade, o Orgulho, a Cobiça, a Inveja...o Egoísmo.
Em tese, espiritualmente falando, temos a obrigação moral de reconhecer que NÃO precisamos de dinheiro pra nada -- que tudo não passa de convenção social. O dinheiro entra justamente onde nossa boa-vontade e nosso conhecimento estão ausentes. Num mundo composto por egoístas ao extremo, é justamente o dinheiro o que serve de impulso para o trabalho em equipe... pois é a noção de "vantagem em cima do outro" o que nos faz sair do lugar.
Seja como for... talvez o grande escritor esteja certo:
“Não exageres o culto da verdade, não há
homem que ao fim de um dia não tenha mentido com razão muitas vezes”
Jorge
Luis Borges
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