sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A MAGIA QUE UM GUARDA-CHUVA TRAZ...






Dia sete de Dezembro, na Gold, tivemos a premiação que a Faculdade Veris realiza para os cursos de Comunicação. Na ocasião, as agências formadas em cada semestre receberam o prêmio por tanta dedicação e tanta luta. Parabenizamos as agências que concorreram, e sobretudo aquelas que foram contempladas. Em honra a este momento, algumas considerações são necessárias; algumas reflexões sobre o "sucesso".

Existe uma fórmula para a vitória ? Sun Tzu talvez dissesse sim... mas não se trata aqui da Arte da Guerra... subir ao pódio de um MIX de Comunicação tem mais a ver com a Arte de se Viver. A arte de se saber o que é a Vida. Na conhecida música "Vida Real" (que infelizmente foi banalizada por certo programa televisivo) temos algumas estrofes emblemáticas. Entre elas:

O MUNDO É PERIGOSO
E CHEIO DE ARMADILHAS
-- DE MISTÉRIO E GOZO,
VERDADES E MENTIRAS...

VIVER É QUASE UM JOGO
UM MERGULHO NO INFINITO.
E SE SOUBER BRINCAR COM FOGO...
... NÃO HÁ NADA MAIS BONITO.

Esse é o mito da vitória -- de uma certa predestinação, ou superioridade daqueles que se tornam os "vencedores". Nada mais longe da verdade: não há "atalhos" para a glória... até porque "vencer" é apenas um ponto de vista. E esta música do RPM nada mais é do que uma brincadeira com esse tema; onde a paródia é evidente no título: "Vida Real". A vida real não é assim; ela não traz consigo um "roteiro". Não há "fórmulas de sucesso" -- existem etapas onde a qualidade é cultivada, pouco a pouco.

Nas palavras do nosso membro Giordano Cordaro: "[...] a essência de todo o trabalho MIX está em se portar como um grupo/agência do início ao fim. Trabalhar em grupo significa colaboração, apoio, críticas e esforço coletivo. E se mandamos tão bem hoje foi pq em momento algum deixamos de ser uma unidade."

O cuidado e a busca por excelência devem ser levados em conta a cada passo da jornada. Ao contrário dessa canção do RPM, o "fogo" deve ser evitado a todo custo -- pois é um tolo aquele que crê ser imune aos perigos do descarrilamento ao longo da caminhada. O trabalho em equipe exige essa atenção... e no caso, a Agência Brandstorm teve que lidar desde cedo com essa realidade. Em certa ocasião, a nossa integrante Jéssica Rojas colocou: "gente, não estamos falando de defeito ou coisa e tal. Agora JÁ FOI, não adianta também ficar colocando a culpa em ninguém e tudo mais. Agora vamos com garra na apresentação e tudo mais =) ..."

O cenário já envolve questões delicadas desde o início: sete pessoas, completamente diferentes umas das outras... com visões muito próprias sobre a vida, e com metas pessoais a serem satisfeitas através das atividades do grupo. Sim, porque não basta estar em dia com o planejamento da agência: é preciso obter algum ganho emocional disso -- algo normal e próprio de nossa condição humana. Em termos simples: é preciso que as tarefas da equipe façam felizes os integrantes dela. Só a realização pessoal traz resultados absolutos, plenos.

Mas a coisa não fica só nisso: estamos falando de uma agência de publicidade, e o "encaixe" deve estar também nas idéias, na criatividade colocada em cada projeto. E às vezes o acordo das vontades não é imediato. Seja porque as possibilidades foram contrárias, seja porque houve o simples desencontro de horários. E é nesses momentos que se deve redobrar o cuidado com a harmonia do grupo, que se deve ter comprometimento. Como disse Mirian Diehl: "Criatividade é essencial e sempre bem vinda. Mas pra funcionar depende muito do comprometimento do grupo e do tempo para desenvolver a idéia..."

Comprometimento é um ingrediente importante, mas organização também é... e nesse quesito Luara Venancio contribuiu muito: "Brands é o seguinte, não iremos nos reunir neste sábado, pois alguns não poderão ou nao confirmaram presença. Então, na segunda feira, iremos fazer uma reunião IMPORTANTE na hora do intervalo, para definitivamente começarmos a dividir as tarefas para o MIX. Todos concordam? Obs: Não podemos perder mais tempo."

Comprometimento, organização... elementos inúteis sem Profissionalismo. Flavia Matos disse bem: "Não tô dizendo que a gente tem que viver grudado um no outro e não ter vida social na faculdade fora da agência. Mesmo porque eu não falo de dinâmica pessoal, mas profissional. Para isso, precisamos criar uma certa intimidade pra saber como cada um é, funciona, trabalha, pensa, para podermos identificar o potencial de cada um e definir qual a melhor maneira de contribuir dentro da agência. Penso que devemos respeitar o processo. Um coletivo não se forma espontaneamente se não houver alguma ação.Do contrário, não é um coletivo.É apenas um grupo de pessoas."

Pode parecer complicado, difícil, mas tanto esforço rende bons frutos, aliás... ótimos frutos. Como disse Bruno Victor horas antes da premiação: Gente, eu nem sei o que falar, de boa. Vocês foram meu semestre!  ... minha agência de que me orgulho DEMAIS! Meus amigos, profissionais e amigos, o melhor dos dois mundos na nossa agência. Cada um com a sua história particular, comigo e com os outros, e ao mesmo tempo tudo uma história só!"

Comprometimento, organização, profissionalismo, união... falta alguma coisa ? Sim, auto-conhecimento: consciência de si mesmo, de seus próprios limites e de sua própria capacidade. Flavia Matos expressou isso muito bem, também horas antes do evento na Gold: "Brands, hoje é um grande dia! Após toda nossa saga pra realizar esse MIX, que foi lindo, hoje vamos celebrar muito mais do que uma premiação; vamos celebrar o fim de um ciclo que nos uniu para realizar algo fantástico, em todos os sentidos. E nós fizemos um excelente trabalho, sem dúvida nenhuma! Eu, assim como todos vcs, quero DEMAIS ganhar esse MIX. Mas pode ser que - por milhões de motivos- isso não aconteça. [...] Por isso, Brands queridos, avaliem-se vcs mesmos; julguem as suas notas; escolham seu lugar no pódio. Hoje a noite, se o resultado não for o mesmo que o da banca avaliadora, [...]. Suba no palco com a cabeça erguida, um sorriso na cara e o coração tranquilo pra pegar qq lugar, porque dentro de vc, vc carrega a sua verdade e qd vc tem isso, nada nem ninguém pode te abalar. Eu já avaliei nosso projeto e escolhi nosso lugar no pódio. E vcs?"

Como se vê, nada é gratuito quando o assunto é "chegar lá". E o intuito de expormos aqui alguns detalhes do dia-a-dia da Agência Brandstorm é o de homenagear TODAS as agências participantes -- com seus altos e baixos, seus talentos e suas fraquezas, seus medos e suas expectativas, sua fé e sua dedicação.

Porque se houve ganhadores no MIX, isso se deve ao ambiente favorável que a incrível sala M9 possui para o desenvolvimento das habilidades de cada aluno seu.



Parabéns a todos, e em nome de nossa Agência, agradecemos o apoio e o carinho recebidos.


Obrigado.

domingo, 20 de novembro de 2011

NOS SUBTERRÂNEOS DO TEXTO

Muita coisa é deixada de contar, quer seja por discrição ou por pudor, tem coisas que no teatro não se falam ficam nos segredos dos camarotes dos bastidores, e que nem eu poderia revelar, o artista tem a tendência de não mostrar pequena coisas do cotidiano de um espetáculo que seriam até divertidas as pessoas saberem, principalmente aquelas que pretendem um dia trabalhar com Teatro.

Mas seja como for uma coisa é certa: para todos o espetáculo é o foco principal da vida, é o mundo todo mundo, e o Brasil tem tantos atores e pessoas que se dedicam a esta arte que nunca poderia imaginar que fosse assim. Tive sorte em ter de “cara” minhas peças encenadas de ganhar algum dinheiro com elas de ser reconhecida e que para o teatro idade não existe e Dionísio não barra ninguém.

Constatei por experiência própria que todas as pessoas que fazem teatro, a começar pelo autor até o crítico teatral, somente se ocupam do teatro pois as peças de alguma forma têm a ver consigo mesmos, com alguma lição de vida que irão aprender ao encenar e falar aquele determinado texto, no momento de suas vidas em que isso acontece.

O mesmo deve acontecer com a platéia, vendo ao vivo os deuses que habitam no inconsciente coletivo se manifestando em total plenitude, tornando-se todos cúmplices da TRAGÉDIA HUMANA. No teatro tudo é ao VIVO, de VERDADE no momento real da ENCENAÇÃO, com emoções que jamais serão repetidas em outro dia.

Feito exclusivamente por quem teve o privilégio de estar presente naquele instante, pois amanhã será tudo diferente, mesmo que formalmente seja igual, este é o fascínio que leva o escritor a escrever para o TEATRO, o personagem adquire vida, carne e osso, fala, respira...  e são momentos tão imprevisíveis !

Nos Bastidores do Teatro – Ana Vitória Vieira Monteiro










terça-feira, 15 de novembro de 2011

CONSTRUINDO UM SONHO -- TRANSPIRAÇÃO


A seguir, mais momentos de nossa equipe BrandStorm; abrilhantados por nossas belas integrantes: Luara Venancio, Jessica Rojas, Mirian Diehl e Flavia Matos.  Um quarteto fantástico repleto de talento, competência e comprometimento.






CONSTRUINDO UM SONHO -- INSPIRAÇÃO


A seguir, alguns dos momentos de criação da equipe BrandStorm.
Abaixo, a nossa querida e inigualável Jessica Rojas:




quinta-feira, 10 de novembro de 2011

ROTEIRO DEFINITIVO -- VERSÃO FINAL

E a seguir, o roteiro definitivo usado na apresentação. Boa leitura.



QUANDO O LEQUE SE ABRE...
(Adaptação do Conto Nº 2: Bandeira Branca, de Luís Fernando Veríssimo) 


Ligo o rádio. A estação faz uma homenagem às marchinhas clássicas de carnaval. O que toca? “Bandeira branca, amor, não posso mais pela saudade...”. Dos meus lábios lentamente irrompe um sorriso, daqueles sutis, que se revelam quando nos lembramos de algo bom. Ah, meus carnavais...
Faz frio. Escuto o som de marchinhas de carnaval se aproximando. Pela rua de casa desfila um bloco de foliões. Vou até a janela conferir. Hoje as fantasias não são mais adereços tão necessários assim, mas ainda existem alguns foliões insistentes! São esses os que me fazem lembrar meus longínquos carnavais, no interior, nas matinês do único clube da cidade. Minhas memórias retornam aos poucos, como o abrir de um leque, prestes a revelar a intensidade das minhas lembranças mais remotas...
Fecho o s olhos. Tambor. Serpentina, confete, tambor. Apito, chocalho, poeira, gritos, mais tambor, mais gritos, gritos altos, cores embaçadas. Multidão. O montinho de confete. Um leque... O que há por trás desse leque? Um pouco desfocada, calma, sim: lá está ela. Sorrindo um sorriso não daqueles abertos e cheios de dentes, mas daqueles sutis, como se eu não merecesse toda a alegria que ela continha dentro de si, entregue de bandeja num abrir de lábios. Seu nome era Janice.
Preciso de alguns minutos para digerir o turbilhão de lembranças tão encrustadas em minha cabeça que mesmo o maior porre de conhaque não resolveria. Medidas paliativas nunca solucionaram os problemas daqueles que perderam as ilusões tão cedo na vida, como eu. O melhor remédio eu desconheço; talvez não queira encontrar. As memórias daqueles carnavais longínquos são meu veneno e antídoto. Enervam minha alma, mas quando desaparecem me devolvem ao mundo real como um soco no estômago.  Não sei se é apenas “carranquice”, obra da idade, mas os anos são ainda mais implacáveis para aqueles que vivem do passado - seres humanos presos em uma época mágica onde tudo parece cercado de possibilidades infinitas e o tempo é mero capricho, uma convenção, de fato.
A maior história de amor da minha vida começou pelo início, por mais óbvio que pareça. Nem sempre é assim. Éramos crianças, descompromissadas e despidas de máscaras como toda criança deveria ser, pois são os adultos e os velhos que precisam se esconder sob as máscaras.  Não me lembro precisamente qual era o meu costume; decerto era aquela fantasia surrada de tirolês que minha mãe insistia em me vestir nos primeiros carnavais. E Janice... Janice era uma odalisca cintilante, cujos pequenos brilhos nos adornos da roupa formavam o complemento perfeito para os pequenos olhos amendoados da menina que foi minha arquiteta companheira em meu primeiro montinho de confete. Cúmplices, sequestrando confetes do chão e das mãos dos desavisados para montarmos nossa pequena montanha de papel picado. Para nós, pouco importava o tambor, as serpentinas, o apito e toda aquela multidão...
- Píndaro. Disparei meu nome.
- Píndaro? Que nome estranho. Janice respondeu.
Janice era uma menina cheia de mistérios e rara beleza. Além dos olhos amendoados e pequenos, que praticamente fechavam-se por completo quando abria o sorriso, tinha um charme nesses olhos... A pele alva e lisa cheirava a pêssego maduro. Os cabelos longos e leves adornavam aquele rosto de anjo caído e os gestos eram de uma Madame Butterfly. Tudo tão harmoniosamente montado junto, na sua figura, como um quebra cabeça divino que me roubou os olhos desde o primeiro instante.
Durante os meses do ano Janice era apenas um refúgio na minha cabeça; um canto quente e acolhedor onde eu poderia me reconfortar de tudo o que me afligia. Ela morava em outra cidade e o que a trazia aos nossos carnavais eram as visitas à tia, que era sócia do clube onde os bailes aconteciam.
Eu lembro de passar o ano inteiro torcendo para que nossas fantasias combinassem. Assim, formaríamos um par. O pior é que nunca dava certo.
Ela, odalisca. Eu tirolês.
Ela, egípcia. Eu repeti a fantasia.
Ela, índia americana. Eu, legionário romano.
E nesse desencontro de figurinos, passamos bailes e mais bailes nos encontrando, fazendo montinhos de confete, depois entrando no cordão e nos perdendo um do outro. Encontrá-la já fazia parte do meu carnaval, mas nunca fomos um par. Até que um dia, quando eu tinha... O quê? Uns treze ou quartoze anos, não lembro exatamente- a memória já não é mais minha aliada- em um carnaval aconteceu o que eu tanto esperava:
Ela, bailarina espanhola. Eu, toureiro...
Éramos finalmente um par! Um par perfeito! Algo aconteceu quando eu segurei a sua mão naquele dia. Eu sabia que aquele seria o dia do meu primeiro beijo. E era o que eu queria. Janice...
Ah, a magia daquele carnaval ainda ecoa na minha alma...
Foi nesse dia que eu finalmente conheci o tal fundo do ginásio, onde os amigos mais velhos levavam as meninas para beijar. Eu segurava em sua mão, levando-a como a uma namorada. Meu coração batia descompassado, veloz, acelerado, quente. Eu, de certo, estava rubro. Mas prosseguia, indo para nosso destino com minha bailarina espanhola.
Antes de chegarmos ao fundo do ginásio, ela tremia inteira:
- Você está tremendo. Está com frio?
Ela fez que sim com a cabeça. Tirei minha capa de toureiro e cobri seus ombros. Ela sorriu para mim. Continuei a levá-la pelas mãos, tentando acalmar as batidas do meu coração que insistiam em acelerar de forma violenta dentro de mim. Quando encostasse meu peito contra o dela, durante o beijo, ela certamente notaria tal agitação.
Chegando ao famoso fundo do ginásio, minha decepção não poderia ser maior: apenas um gramado, com algumas árvores e alguns casais. Um silêncio sepulcral; lá não se conversava. Lá, se beijava. Só dava para ouvir as marchinhas com um som abafado, um pouco surdo, que vinham de dentro do salão.
    -Vem! Chamei Janice.
    Ela veio.
Nos beijamos muito aquele dia, beijos curtos e longos. Ás vezes, apenas nos olhávamos. Depois nos beijávamos de novo.
Para as mães não perceberem o sumiço e não nos encrencarmos, voltamos para o baile, mas eu não queria. Queria ficar com Janice até o próximo baile. Até o próximo carnaval. Até o resto da vida! Queria roubar Janice para mim.
     -Me dá uma coisa sua! Pedi.
     -Por quê?
     -Para eu ter uma coisa sua...
     -O leque!
     Ela ergueu o braço até a altura dos olhos abriu o leque, depois o fechou e o entregou.
     -Guarda para sempre! Ordenou.
Obedeci...
Revê-la apenas em fevereiro era como abrir um presente fechado que ficara guardado durante muito tempo e me surpreender sempre com o que encontrava. O tempo passava e de repente lá estava ela: corpinho formado, de moça, a voz empostada, rindo alto e à vontade.
Eu a vi logo que cheguei. Para mim, não era difícil identificá-la no meio da multidão. Me lembro como ela sorria, os olhinhos quase fechados... A maciça companhia masculina que a cercava me desencorajou de tentar qualquer tipo de aproximação. Me recostei em um pilar para ao menos observá-la, olhar para ela... Guardar sua imagem até o próximo carnaval... Quem sabe no próximo baile?
É a última lembrança que tenho de Janice.
Eu, também crescido, espinhas na cara e cabelos mal penteados era um adolescente tolo tentando encontrar num copo de “guaraná clandestino” as ilusões roubadas pela saudade do meu amor de carnaval. Já tinha 15 anos e Janice, no entanto, já não era mais objeto exclusivo de meus sonhos e lamentações: linda e desenvolta, chamava a atenção de outros “tiroleses” no baile. Mas eu não era mais o tirolês. Depois de alguns bailes, a fantasia não me servia mais e eu virara o brasileiro. Ela, a “Bávara tropical”, segundo a própria. Naquela noite, Marcelão, meu amigo na época, fornecia o que eu chamava de “tapa-buracos d’alma”: gim para misturar com guaraná. Péssima ideia, coisa de moleque. Algumas horas mais tarde eu rebatizaria o drink de “desentupidor de almas”...
Bebendo descompassadamente e tentando me esquivar de Janice e suas irritantes companhias masculinas, lamentava por não ter coragem o suficiente para me declarar para ela. Cambaleante, resolvi me retirar do baile como um empregado demitido, pela porta dos fundos. Quando estava, tortuosamente, alcançando a saída do clube, senti alguém me agarrando pelas mãos:
- Olha o que está tocando.
Era Janice, que viera ao meu alcance, sorriso aberto e as trancinhas de bávara pendulando conforme seus pés tocavam o chão. Era “Bandeira Branca” que estava tocando, a clássica marchinha que não ouvimos mais nos carnavais contemporâneos, e que embalara todos os meus bailes no clube com Janice. Senti meu rosto ferver, um tanto pela vergonha outro tanto pelo álcool, e a deixei me arrastar de volta ao salão. “Bandeira branca, amor, não posso mais pela saudade...”. Eu tentava me equilibrar e não pisar nos pés de Janice, mas meu estado alcoólico deplorável não ajudava. Respirei fundo e deixei a dança acontecer. Repousada sobre meus ombros, eu sentia sua respiração quente e suave me fazer carinho no pescoço. Seu corpo colado ao meu formando uma única unidade, o tempo lentamente parando... As pessoas sumindo... A gritaria emudecendo... As luzes se apagando... Naquele salão só havia espaço para mim, Janice e o nosso amor.
Durou o tempo em que a música tocou. Janice se despediu de mim e aquele foi o último carnaval em que nos encontramos. E o último carnaval ao qual eu fui pelo resto da minha vida.
Eu já não frequentava mais aquela festa, nem voltava para minha cidade no interior. O carnaval tem data para começar e terminar. Entretanto, Janice não morreu para mim. O que é transitório dentro de mim se torna infinito. A nossa dança nunca terminou e a despedida, nunca aconteceu.
Tentei inutilmente reencontrar Janice em outras mulheres, em outras odaliscas, bailarinas espanholas e bávaras tropicais, mas nunca fui feliz como naquela dança. O tirolês-toureiro-brasileiro hoje é um velho solitário de cabelos grisalhos, saudoso de um passado distante, esgotando o resto de memória que me ainda tenho, vivendo delas para adoçar um pouco a amargura da consciência de uma vida mal vivida.
Janice continua intacta na minha lembrança. Linda; de odalisca ou egípcia, de índia americana a bávara tropical: todas são minhas, todas são Janice. Vivo a memória de uma foliã diferente a cada dia e assim passo meu tempo, enquanto tempo ainda me resta... Porém, meus dias de maior delicadeza são os que vivo com minha bailarina espanhola, com a cabeça repousada em meu peito, sua respiração acarinhando meu pescoço, as pessoas sumindo, a gritaria emudecendo, as luzes se apagando... Bandeira Branca, amor. Não posso mais pela saudade que me invade, eu peço paz...

BASTIDORES -- TRÊS EM DOIS

Segue a versão sob o ponto de vista de Píndaro. Boa leitura.

Tambor. Serpentina, confete, tambor. Apito, chocalho, poeira, gritos, mais tambor, mais gritos, gritos altos, cores embaçadas.  Multidão. O montinho de confete. Um pouco desfocada, calma, sim: lá está ela. Sorrindo um sorriso não daqueles abertos e cheios de dentes, mas daqueles sutis, como se eu não merecesse toda a alegria que ela continha dentro de si, entregue de bandeja num abrir de lábios. Seu nome era Janice.
Acordo. Alguns minutos para digerir o turbilhão de lembranças tão encrustadas em minha cabeça que mesmo o maior porre de conhaque não resolveria. Medidas paliativas nunca solucionaram os problemas daqueles que perderam as ilusões tão cedo na vida. O melhor remédio eu desconheço; talvez não queira encontrar. As memórias daqueles Carnavais longínquos são meu veneno e antídoto, enervam minha alma, mas quando desaparecem me devolvem ao mundo real como um soco no estômago.  Não sei se é obra da idade; provavelmente. Os anos são ainda mais implacáveis para aqueles que vivem do passado - seres humanos presos em uma época mágica onde tudo parece cercado de possibilidades infinitas e o tempo é mero capricho, de fato uma convenção, limitada aos que não conseguem viver o presente.  Irônico, eu falando de presente...
Começou pelo início, por mais óbvio que seja. Nem sempre é assim. Éramos crianças, descompromissadas e despidas de máscaras como toda criança deveria ser, pois eram os adultos que precisavam se esconder sob outras máscaras além das habituais do dia-a-dia.  Não me lembro precisamente qual era o meu costume, de certo era aquela fantasia surrada de tirolês que minha mãe insistia em me vestir nos primeiros Carnavais. E Janice... Janice era uma odalisca cintilante, cujos pequenos brilhos nos adornos da roupa formavam o complemento perfeito para os pequenos olhos amendoados da menina que me ajudou a arquitetar meu primeiro montinho de confete. Cúmplices sequestrando confetes do chão e das mãos de desavisados para montarmos nossa pequena montanha de papel picado. Para nós, pouco importava o tambor, as serpentinas, o apito e toda aquela multidão...
- Píndaro, lembro de contá-la.
- Píndaro? Que nome estranho, Janice respondeu.
Caminho até a cozinha, contemplo a janela durante breves segundos, me disponho a fazer o café.  Moro no Rio de Janeiro, a terra do Carnaval de sambódromo, nacionalmente televisionado, onde não havia espaço para montinhos de confete. Um Carnaval bem diferente daquele em que eu Janice nos encontrávamos, no clube de minha antiga cidade. Durante os meses do ano Janice era apenas um refujo na minha cabeça, um canto quente e acolhedor onde eu poderia me reconfortar de tudo o que me afligia. Ela morava em outra cidade e o que a trazia aos nossos carnavais eram visitas à tia, que por sua vez era sócia do clube onde os bailes aconteciam. Revê-la apenas em fevereiro era como abrir um presente fechado que ficara guardado durante muito tempo e se surpreender com o que encontrou: o tempo passava e de repente lá estava ela, com peitos, corpo de mocinha, a voz empostada, rindo alto e à vontade.
É a última lembrança que tenho de Janice. Eu, também crescido, espinhas na cara e cabelos mal penteados era um adolescente tolo tentando encontrar num copo de “guaraná clandestino” as ilusões roubadas pela saudade do meu amor de Carnaval. Já tinha 15 anos e não a encontrara no baile do ano anterior; mais tarde descobriria que o motivo fora o falecimento de sua avó. Janice, no entanto, já não era mais objeto exclusivo de meus sonhos e lamentações: linda e desenvolta, chamava a atenção de outros “tiroleses” do baile. Mas eu não era mais o tirolês. Depois de alguns bailes, a fantasia não me servia e eu virara o havaiano. Ela, a “Bávara tropical”, segundo a própria. Naquela noite, Marcelão, meu amigo a época, fornecia o que a priori eu chamava de “tapa-buracos d’alma”: gim para misturar com guaraná. Péssima ideia, coisa de moleque. Algumas horas mais tarde eu rebatizaria o drink de “desentupidor de almas”...
Bebendo descompassadamente e tentando me esquivar de Janice e suas irritantes companhias masculinas, lamentava por não ter coragem o suficiente para me declarar para ela. Cambaleante, resolvi me retirar do baile como um empregado demitido pelas portas do fundo. Quando estava, tortuosamente, alcançando a saída do clube, senti alguém me agarrando pelas mãos:
- Olha o que está tocando.
Era Janice, que viera em meu alcance, sorriso aberto e as trancinhas de bávara pendulando conforme seus pés tocavam o chão. Era “Bandeira Branca” que estava tocando, a clássica marchinha que não ouvimos mais nos carnavais contemporâneos, e que embalara a maioria dos meus bailes no clube com Janice. Senti meu rosto ferver, um tanto pela vergonha outro tanto pelo álcool, e a deixei me arrastar de volta ao salão. “Bandeira branca, amor, não posso mais pela saudade...”. Eu tentava me equilibrar e não pisar nos pés de Janice, mas meu estado alcoólico deplorável não ajudava. Respirei fundo e deixei a dança acontecer. Repousada sobre meus ombros, eu sentia sua respiração quente e suave me fazer carinho no pescoço, seu corpo colado ao meu formando uma única unidade, o tempo lentamente parando, as pessoas sumindo, a gritaria emudecendo, e as luzes se apagando. Naquele salão só havia espaço para mim, Janice e o nosso amor.
Durou o tempo em que a música tocou. Janice se despediu de mim e aquele foi o último Carnaval em que nos encontramos. E o último Carnaval ao qual eu fui, pelo resto da minha vida.
Eu já não frequentava mais aquela festa, nem voltava para minha cidade no interior. O Carnaval tem data para começar e terminar, e o fim da festa mais viva e colorida do ano acontece no dia da celebração da mortalidade. Entretanto, Janice não morreu pra mim. No meu Carnaval particular não havia espaço para a efemeridade, o que era transitório dentro de mim se tornava infinito, a nossa dança nunca terminou e a despedida, nunca aconteceu. Tentei inutilmente reencontrar Janice em outras mulheres, em outras odaliscas e bávaras tropicais, mas nunca fui feliz como naquela dança. O tirolês-havaiano hoje é um velho solitário de cabelos grisalho, saudoso de um passado distante...
Ligo o rádio. A estação faz uma homenagem às marchinhas clássicas de Carnaval. O que toca? “Bandeira branca, amor, não posso mais pela saudade...”. Dos meus lábios lentamente irrompe um sorriso, daqueles sutis.

BASTIDORES -- TRÊS EM UM

Segue a versão da história a partir do ponto de vista de Janice. Boa leitura.

Ah, Bandeira Branca, meus carnavais... Quantas memórias queridas!
As fantasias dos passados bailes de carnaval, tornaram-se máscaras. Por isso posso dizer que as continuo usando, não é? Quem não usa?
Hoje é quarta feira de cinzas. O carnaval acabou, o cordão já passou e os bêbados já estão sendo expulsos das ruas. A ordem precisa ser reestabelecida!
E eu estou aqui dentro dessa casa, protegida por essas paredes contra qualquer resquício dos foliões.
Me lembro que, quando criança ía sempre para o interior, visitar a tia Úrsula. Passava alguns dias em sua casa, justamente no carnaval. Lembro dela como uma mulher muito alegre e cheia de vida. Não perdia um baile de carnaval e sempre me carregava junto para as matinês. Era questão de honra fazer para mim todos os anos, uma linda fantasia que ela mesma costurava com uma habilidade impressionante em sua velha máquina de costura. E eu sempre tinha a fantasia mais linda do baile.
Nesses bailes, em que fugia da mãe para fazer montinhos de confete caídos no chão, espalhados como milhares de gotas de chuva por todo o salão, eu me lembro de muita coisa. Lembro como era feliz aquela inocência remota que nos abandona depois de uma certa idade. Lembro dos primos que íam para trás do ginásio para beijar as meninas. Lembro da primeira vez que fui também. Tinha as meninas da rua, aquela que era muito minha amiga... como era mesmo o nomes dela...Cassandra? Não!...Alessandra? Não, era um nome diferente... Paloma?
Tinha um menino, desse definitivamente não vou lembrar o nome. Não só porque sou péssima em guardar nomes e a idade já não favorece mais, mas porque ele tinha realmente um nome muito peculiar. Como ele mesmo era. Ao invés de entrar no cordão e pular carnaval como todo mundo, ele era meu arquiteto companheiro nos montinhos de confete. Foi assim que nossas mães se conheceram. Vieram nos puxar pelos braços e nos enfiaram no meio do cordão, onde sempre acabavamos nos perdendo um do outro. Isso foi há muito tempo atrás, muito tempo... Quantos anos seriam? Cinquenta, sessenta anos atrás? Não me lembro mais. O nome dele era até um pouco engraçado, mas mais velha e madura, um dia por curiosidade fui procurar o significado numa enciclopédia e descobri que era o nome de um poeta romano ou grego... nao me lembro mais. Mas definitivamente me lembro que começava com a letra P, por isso é assim que eu o chamo até hoje em minhas lembrancas.
Ele morava na cidade e não perdia um baile de carnaval. E como minha família ía sempre visitar a tia Úrsula, sempre nos encontramos nas matinês. Desde criancinha!
 Eu ficava o ano todo pensando na minha fantasia e torcendo para que ela combinasse com a dele e assim, nós formaríamos um par. Pode?
O pior é que nunca dava certo.
Eu, bailarina. Ele tirolês.
Eu, egípcia. Ele repetiu a fantasia.
Eu, índia americana. Ele, legendário romano.
E nessa desencontro no figurino, passamos bailes e mais bailes nos encontrando, fazendo montinhos de confete e depois entrando no cordão para ir atrás do trio. Encontrá-lo já fazia parte do meu carnaval, mas nunca fomos um par. Até que um dia, quando eu tinha... o que? Uns treze ou quartoze anos, não lembro exatamente (minha memória já não é a mesma...) aconteceu o que eu tanto esperava:
Eu, bailarina espanhola. Ele, toureiro...
Éramos finalmente um par! Um par perfeito! Algo aconteceu quando ele segurou a minha mão naquele dia. Eu sabia que aquele seria o dia do meu primeiro beijo. E era o que eu queria.
A magia daquele carnaval ainda ecoa na minha alma...
Quando ele finalmente me beijou, no começo achei estranho, esquisito. Quis desistir, mas quando eu coloquei as mãos nos seus ombros com a intenção de empurra-lo, ele me abraçou mais forte e me rendeu irremediavelmente. Cai em seus braços, já não importavam as mães.
Tia Úrsula viu. Veio chamar a atenção para sairmos dali:
-Se uma daquelas duas loucas pegam vocês, nem sei!
 Foi nesse dia que eu finalmente conheci o tal fundo do ginásio. Ele segurava minha mão, me levando como a uma namorada. Meu coração batia descompassado, veloz, acelerado, quente. Eu, de certo, estava rubra. Mas lá estava eu, indo para o fundo do ginásio com o meu toureiro. Lembro da capa vermelha, do chapéu engraçado, lembro de cada coisa e me esqueço de tantas outras!
Quando chegamos ao fundo do ginásio, eu tremia inteira:
- Você está tremendo. Está com frio?
Eu fiz que sim com a cabeça; não queria que ele soubesse que era o primeiro. Eu era da capital.  E para os meninos, toda garota da capital já tinha que ter beijado alguém. Menos eu. O P era o menino perfeito para ser meu primeiro beijo, por isso eu o escolhi. E as fantasias...  Finalmente um par!
Chegando ao famoso fundo do ginásio, minha decepção não poderia ser maior: apenas um gramado, com algumas árvores que alguns casais usavam como apoio durante os longos beijos. Um silêncio sepulcral; lá não se conversava. Lá, se beijava. Só dava para ouvir as marchinhas com um som abafado, um pouco surdo, que vinham de dentro do salao. P continuou a segurar minha mão enquanto examinava o lugar, certamente procurando um canto para me levar. Me lembro que pensei: "Nossa! Ele já deve ter trazido várias garotas para cá...Certamente vai notar que eu não sei beijar!". Pensava nisso o tempo todo até que senti a mão dele me puxando:
-Vem!
Fui.
Nos beijamos muito, beijos curtos e longos. Ás vezes, apenas nos olhavamos. Depois nos beijávamos de novo.
Para as mães não perceberem o sumiço e não nos encrencar com as malucas, voltamos para o baile, mas eu não queria. Queria que aquele momento durasse por toda a eternidade. Estava esfuziante! Vibrante! Tinha dado meu primeiro beijo!
Ao voltar para o baile, ficamos brincando de disfarçar. Foi um carnaval inesquecível para mim. Talvés apenas mais um para ele, mas para mim, nascia um novo tempo.
Aquele beijo me deu confiança. Já não precisava temer beijar os meninos do colégio. O primeiro com quem eu fiquei foi o Beto. Depois, namorei o Henrique, o Lucas, o Leo...
Mas lembro que no carnaval desse ano, fui para Ubatuba com as meninas do colégio e conheci vários garotos. Foram paixões de carnaval, amor que não sobre a serra... Quando encontrei o P, menti, dizendo que vovó tinha morrido.
No ano seguinte, minha mãe decidiu que iríamos visitar a tia Úrsula. Não quis de início; queria viajar com as amigas. Mas a mãe não deixou. Depois fiquei sabendo que meus primos também estariam lá e me animei para o baile dos adultos! Como eles eram mais velhos, não iriam querer ir na matinê do clube; de certo iriam no baile dos adultos, a noite  e quem sabe a mãe não deixaria eu ir? De fato, no começo, a mãe não deixou, apesar da vergonhosa birra que fiz. Só depois que o primo mais velho prometeu não tirar os olhos de mim foi que a mãe finalmente cedeu.
Os primos levaram alguns amigos e eu era a única menina da turma. Não me lembro de ter recebido tanta atenção em outra situação como naquela noite. Todos queriam dançaar comigo: os primos, os amigos dos primos, alguns garotos desconhecidos... 
Os meninos tinham levado uma garrafa de vodca escondida nas calcas largas e estavam bebendo misturado com refrigerante. Tomei um copo e fiquei ligeiramente bêbada. Nunca havia bebido antes e aquela sensação era delirante. Porem, mesmo inebriada por toda essa esfera favorável, enquanto pulava de um lado para o outro do salão agarrada aos meninos para não me desequilibrar, não deixei de procurar pelo P. Como não o encontrava, deduzi que ele devia ainda frequentar a matine. Foi quando o vi, encostado em uma pilastra do salão, olhando para mim, o meu toureiro. Fui até ele. Nos olhamos muito, sorrindo. Dessa vez, sem fantasias.
Não me lembro sobre o que falamos. Apenas lembro que ele ficou de me dizer algo e eu pedi para ele deixar para o carnaval do ano seguinte. Porem naquele ano, meu pai que era funcionário do Banco do Brasil, foi transferido para o Rio de Janeiro e eu nunca mais fui visitar a tia Úrsula. Passei a ir assistir as escolas de samba no sambódromo e nunca mais fui a bailes de carnaval.
Anos depois, já casada e com filhos, o encontrei no aeroporto. Ele não me reconheceu. Ele também estava diferente, mas eu o reconheci pelas mãos. Era carnaval. Eu estava chegando ao interior para visitar minha tia Úrsula que estava muito doente. Me lembro de ter perguntado ò que você ía me dizer naquele carnaval?`. Ele não lembrava. Naquele momento tive certeza de que minha paixão de carnaval sempre foi unilateral, pessoal e muito íntima. Eu pensava, enquanto olhava para ele:
-Será que digo como aqueles carnavais foram importantes para mim? Mas estava claro que era melhor me calar.
Logo depois disso, a tia Úrsula morreu e eu nunca mais voltei a cidade. Eu e meu toureiro nos perdemos na geografia impiedosa da vida e do tempo.
Eu me casei, fui muito feliz. Tivemos dois filhos lindos e saudáveis que sempre me deram orgulho e também me deram seis netos que tornam a solidão da velhice um pouco mais doce. Meu marido morreu há dez anos e desde então eu vivo sozinha nessa casa em companhia apenas das minhas memórias falhas e fantasias de velha caduca, no fim da vida, apenas esperando a morte chegar. Mas nunca esquecerei aqueles carnavais. Tampouco o esquecerei o P. E como no carnaval, toda fantasia é permitida, eu me concedo uma última dança com meu toureiro apaixonado...
Minha última dança, eu dedico a ele, Píndaro!
-Bandeira Branca Amor, não posso mais! Pela saudade que me invade, eu peço paz...


BASTIDORES -- O CONTO ORIGINAL

É só quando chegamos ao fim de uma tarefa bem cumprida que percebemos que a jornada até a meta nos permitiu ir além do imaginado. Segue abaixo o conto original a partir do qual nossa agência produziu as versões do roteiro usado na apresentação. Boa leitura.



Conto de verão nº 2: Bandeira Branca


Ele: tirolês. Ela: odalisca; Eram de culturas muito diferentes, não podia dar certo. Mas tinham só quatro anos e se entenderam. No mundo dos quatro anos todos se entendem, de um jeito ou de outro. Em vez de dançarem, pularem e entrarem no cordão, resistiram a todos os apelos desesperados das mães e ficaram sentados no chão, fazendo um montinho de confete, serpentina e poeira, até serem arrastados para casa, sob ameaças de jamais serem levados a outro baile de Carnaval.
Encontraram-se de novo no baile infantil do clube, no ano seguinte. Ele com o mesmo tirolês, agora apertado nos fundilhos, ela de egípcia. Tentaram recomeçar o montinho, mas dessa vez as mães reagiram e os dois foram obrigados a dançar, pular e entrar no cordão, sob ameaça de levarem uns tapas. Passaram o tempo todo de mãos dadas.Só no terceiro Carnaval se falaram.- Como é teu nome?
- Janice. E o teu?
- Píndaro.
- O quê?!
- Píndaro.
- Que nome!
Ele de legionário romano, ela de índia americana.
Só no sétimo baile (pirata, chinesa) desvendaram o mistério de só se encontrarem no Carnaval e nunca se encontrarem no clube, no resto do ano. Ela morava no interior, vinha visitar uma tia no Carnaval, a tia é que era sócia.
- Ah.
Foi o ano em que ele preferiu ficar com a sua turma tentando encher a boca das meninas de confete, e ela ficou na mesa, brigando com a mãe, se recusando a brincar, o queixo enterrado na gola alta do vestido de imperadora. Mas quase no fim do baile, na hora do Bandeira Branca, ele veio e a puxou pelo braço, e os dois foram para o meio do salão, abraçados. E, quando se despediram, ela o beijou na face, disse -Até o Carnaval que vem- e saiu correndo.

No baile do ano em que fizeram 13 anos, pela primeira vez as fantasias dos dois combinaram. Toureiro e bailarina espanhola. Formavam um casal! Beijaram-se muito, quando as mães não estavam olhando. Até na boca. Na hora da despedida, ele pediu:
- Me dá alguma coisa.
- O quê?
- Qualquer coisa.
- O leque. O leque da bailarina.
Ela diria para a mãe que o tinha perdido no salão.
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No ano seguinte, ela não apareceu no baile. Ele ficou o tempo todo à procura, um havaiano desconsolado. Não sabia nem como perguntar por ela. Não conhecia a tal tia. Passara um ano inteiro pensando nela, às vezes tirando o leque do seu esconderijo para cheirá-lo, antegozando o momento de encontrá-la outra vez no baile. E ela não apareceu. Marcelão, o mau elemento da sua turma, tinha levado gim para misturar com o guaraná. Ele bebeu demais. Teve que ser carregado para casa. Acordou na sua cama sem lençol, que estava sendo lavado. O que acontecera?
- Você vomitou a alma – disse a mãe.
Era exatamente como se sentia. Como alguém que vomitara a alma e nunca a teria de volta. Nunca. Nem o leque tinha mais o cheiro dela.
Mas, no ano seguinte, ele foi ao baile dos adultos no clube – e lá estava ela! Quinze anos. Uma moça. Peitos, tudo. Uma fantasia indefinida.
- Sei lá. Bávara tropical – disse ela, rindo.
Estava diferente. Não era só o corpo. Menos tímida, o riso mais alto. Contou que faltara no ano anterior porque a avó morrera, logo no Carnaval.
- E aquela bailarina espanhola? – Nem me fala. E o toureiro? – Aposentado.
A fantasia dele era de nada. Camisa florida, bermuda, finalmente um brasileiro. Ela estava com um grupo. Primos, amigos dos primos. Todos vagamente bávaros. Quando ela o apresentou ao grupo, alguém disse -Píndaro?!- e todos caíram na risada. Ele viu que ela estava rindo também. Deu uma desculpa e afastou-se. Foi procurar o Marcelão.

O Marcelão anunciara que levaria várias garrafas presas nas pernas, escondidas sob as calças da fantasia de sultão. O Marcelão tinha o que ele precisava para encher o buraco deixado pela alma. Quinze anos, pensou ele, e já estou perdendo todas as ilusões da vida, começando pelo Carnaval. Não devo chegar aos 30, pelo menos não inteiro. Passou todo o baile encostado numa coluna adornada, bebendo o guaraná clandestino do Marcelão, vendo ela passar abraçada com uma sucessão de primos e amigos de primos, principalmente um halterofilista, certamente burro, talvez até criminoso, que reduzira sua fantasia a um par de calças curtas de couro. Pensou em dizer alguma coisa, mas só o que lhe ocorreu dizer foi -pelo menos o meu tirolês era autêntico- e desistiu. Mas, quando a banda começou a tocar Bandeira Branca e ele se dirigiu para a saída, tonto e amargurado, sentiu que alguém o pegava pela mão, virou-se e era ela. Era ela, meu Deus, puxando-o para o salão. Ela enlaçando-o com os dois braços para dançarem assim, ela dizendo -não vale, você cresceu mais do que eu- e encostando a cabeça no seu ombro. Ela encostando a cabeça no seu ombro.
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Encontraram-se de novo 15 anos depois. Aliás, neste Carnaval. Por acaso, num aeroporto. Ela desembarcando, a caminho do interior, para visitar a mãe. Ele embarcando para encontrar os filhos no Rio. Ela disse -quase não reconheci você sem fantasias-. Ele custou a reconhecê-la. Ela estava gorda, nunca a reconheceria, muito menos de bailarina espanhola. A última coisa que ele lhe dissera fora -preciso te dizer uma coisa-, e ela dissera -no Carnaval que vem, no Carnaval que vem- e no Carnaval seguinte ela não aparecera, ela nunca mais aparecera. Explicou que o pai tinha sido transferido para outro estado, sabe como é, Banco do Brasil, e como ela não tinha o endereço dele, como não sabia nem o sobrenome dele e, mesmo, não teria onde tomar nota na fantasia de falsa bávara-- O que você ia me dizer, no outro Carnaval? – perguntou ela. – Esqueci – mentiu ele.

Trocaram informações. Os dois casaram, mas ele já se separou. Os filhos dele moram no Rio, com a mãe. Ela, o marido e a filha moram em Curitiba, o marido também é do Banco do Brasil- E a todas essas ele pensando: digo ou não digo que aquele foi o momento mais feliz da minha vida, Bandeira Branca, a cabeça dela no meu ombro, e que todo o resto da minha vida será apenas o resto da minha vida? E ela pensando: como é mesmo o nome dele? Péricles. Será Péricles? Ele: digo ou não digo que não cheguei mesmo inteiro aos 30, e que ainda tenho o leque? Ela: Petrarco. Pôncio. Ptolomeu.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

E NO MEIO DA TEMPESTADE...

Faculdade Veris IBTA - Metrocamp: 07/11 - 20:45. 

É, desta vez nem São Pedro aguentou. Em entrevista exclusiva a nossas fontes o santo explica: "É muita emoção. Coisa de campeonato, na finalíssima! O coração pede arrego desse jeito. O que foi aquele beijo? Coitada da Rita". Nossas fontes declaram ser essa a causa do temporal de ontem à noite. 

Brincadeiras à parte, uma coisa permanece como verdadeira: a intensidade com que este MIX do segundo semestre nos envolve a todos, a todas as agências. É muito amor: amor à profissão de comunicadores... amor ao trabalho em equipe... amor ao conto a ser apresentado. E é com esse amor, que a BrandStorm vem falar do Amor ao encenar a obra do ilustre Luis Fernando Veríssimo.

O amor nos traz coisas inusitadas: no conto em questão, uma delas será o Leque - objeto misterioso... furtivo como os olhos de cigana que tentam esconder. O que traz esse Leque? O que nos revelará? O reverso do reverso, o recontar do recontar... de uma história de amor nunca vivida, mas nem por isso pouco sentida. Ou devemos dizer: nunca sentida, mas nem por isso pouco vivida?

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Serpentina


Serpentina. O que é uma serpentina? Beleza e movimento somados à alegria? Celebração e cor? Ela nos envolve, não só com seu enrolar e desenrolar, no ir e vir da folia... mas principalmente com as lembranças que ela deixa impregnadas em nossa memória. Quantos beijos não aconteceram porque dois rostos, antes sozinhos, acabaram se encontrando pela força de aproximação que a serpentina lhes deu? Como tentáculos feitos de sonho, a serpentina nos leva consigo -- pra lá e pra cá, ao som das batidas de nosso coração. Ela é sinuosa, para nos prender a atenção... ela é colorida, para iluminar as expectativas que tecemos sobre a data que a festa inaugura. E para limpar os temores da data que a festividade finda. Às vezes a serpentina parece fios de cabelos sedosos -- dos dourados fios que enfeitam a beldade que nos sorri para a contradança. Em outras vezes ela parece um coração em frangalhos, feito em tiras de dor e solidão... ao ver essa mesma beldade rodopiando em torno de outro pretendente. A serpentina é toda uma metáfora: parada como o Tempo, ágil como a Vida... frágil como nossa Alma... resistente como nossa Fé... pendurada como nosso crediário no Bar: ou nossa credibilidade junto à namorada ciumenta. Deixemos a serpentina nos ensinar... seus mistérios e suas virtudes são inumeráveis -- e todos mágicos, como os olhos da amada, que mesmo sumidos num irresistível sorriso... nos inundam de brilho, calor e emoção.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Se o tempo parasse naquela hora...


O que faz com que certos momentos fiquem para sempre ?
Quem ou o quê decidem que gesto, que lembrança fugidia marcará profundamente nossa vida ?


Um momento. Um instante. Será que uma vida toda pode se resumir a isso ? A esperar que esse instante nunca se vá ? Sabemos hoje tanto quanto se sabia a quinhentos anos sobre as armadilhas do amor, e os prodígios da memória: absolutamente nada. E por conta disso nunca estaremos preparados para lidar com ambos -- nunca poderemos tomar em nossas mãos as rédeas de elementos tão arredios. Amamos... quiçá para sempre.

"Quando o Leque se Abre..."
Imagine... Lembre... Desvenda!



Onde nossas lembranças e memórias estão inseridas? No espaço ou no tempo?
Tambor. Serpentina, confete, tambor. Apito, chocalho, poeira, gritos, mais tambor, mais gritos, gritos altos, cores embaçadas. Multidão. O montinho de confete. Um leque... O que há por trás desse leque?
Descubram!

Dia 08 de novembro
Auditório Veris
Apresentação nº 6
MIX 2011

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Agência BRANSTORM

                           
Agência BRANSTORM

Ao pé da letra, significa “Tempestade de Marcas”. Por que "marcas" ? Porque a Marca, em si, traduz toda a inventividade produzida em torno da mensagem que determinado produto leva até as pessoas. Nesse sentido, uma Marca é mais que uma propriedade intelectual, pois extrapola do âmbito jurídico o seu alcance.

Em nosso logo, o conceito de Marca representa os clientes da nossa agência, brincando com a palavra Brand (marcas) ao invés de Brains (mente, idéias).

Link Apresentação: http://prezi.com/xtbzab_qnjmt/copy-of-oi/