domingo, 26 de maio de 2013

VENHA ESCREVER UMA BELA HISTÓRIA CONOSCO



A equipe Brandstorm.




Da esquerda para a direita:


Diego Faria -- Responsável pelas produções eletrônicas e audiovisuais nos meios multimídias de rádio, TV e cinema.

Luara Venâncio -- Coordena o setor de Mídia e Planejamento, define o melhor meio e veículo de comunicação de acordo com as características da campanha, especificando a duração de veiculação, melhores horários de alcance e exibição para o público-alvo.

Vinicius Llanque -- Gerencia a Assessoria de Imprensa, o Departamento Jurídico e o setor de Pesquisa e  Estudos de Branding.

Flavia Matos -- Chefia o setor de Atendimento e Planejamento, sendo o canal de comunicação entre os interesses do cliente e os da agência.

Giordano Cordaro -- Criativo da agência, especialista em Redação Publicitária, elabora o conteúdo, onde referências técnicas e culturais auxiliam no entendimento da necessidade do cliente e público. Em parceria com a direção de arte, o redator Giordano Cordado é a linha de comunicação que traduz o conceito defendido pela equipe de criação.

Jessica Rojas -- Diretora de arte e criação, é a responsável por agrupar as informações recebidas pelo atendimento e junto com a equipe de redação fazer passar tais informações por um processo criativo, transformando as ideias em formas de comunicação e mensagens (peças publicitárias, ilustrações, layout, cores/design etc) que irão impactar o público desejado e atenderão as necessidades do cliente.

PORQUE NOSSA HISTÓRIA É ESTA

Sim, e por “nossa” nós da Brandstorm entendemos o relacionamento que esta agência tem com todos aqueles ligados diretamente às Marcas tratadas – pois fazem parte do que somos enquanto equipe...e do que sempre seremos enquanto profissionais de comunicação.

Tudo começa no segundo semestre de 2011, quando sete pessoas se reuniram sob os auspícios das Atividades Multidisciplinares (o temível e emblemático MIX) propostas pela Faculdade Veris. Movida a desafios, e regida sob um forte código de compromisso com metas, essa primeira formação era constituída por:

Bruno Victor – RP;
Flavia Matos – PP;
Giordano Cordaro – PP;
Jessica Rojas – PP;
Luara Venâncio – PP;
Mirian Diehl – RP;
Vinicius Llanque – PP.

Os talentos somados produziram excelentes frutos, e a colocação máxima foi alcançada. Tendo por mote “Contos de Amor”, coube à Agência Júnior Brandstorm defender sua visão de um texto do renomado Luis Fernando Veríssimo – CONTO DE VERÃO Nº 2: BANDEIRA BRANCA.

Para o primeiro semestre de 2012, a Agência teve seus esforços multiplicados com o ingresso de mais dois integrantes:

Gustavo Saraiva – PP;
Marcio Henrique – RP.

Assim, a Criatividade própria da arte e Criação, e a sutileza cabível às Relações Públicas, respectivamente, foram acrescentadas à equipe... permitindo uma nova primeira colocação, dentro do tema “Promoção dos Cursos de Comunicação da Faculdade Metrocamp”.

Os membros Flavia Matos, Gustavo Saraiva e Marcio Henrique acabaram se desligando da Brandstorm no segundo semestre de 2012.

Mas a Agência recebeu, em contrapartida, outro integrante: Diego Faria (PP), que trouxe consigo habilidades necessárias à equipe. Foi então que a Agência obteve a 4ª classificação dentre dez agências concorrentes... onde o tema “A Semana de Arte Moderna no Brasil” permitiu à Brandstorm descobrir nuances inusitadas no exercício da Comunicação, enquanto Arte.

Neste primeiro semestre de 2013, houve o grato retorno de Flavia Matos entre nós... e a despedida de Bruno Victor e Mirian Diehl dos quadros de nossa equipe.

Renovados os ânimos e reformuladas algumas diretrizes, bem como aprimorada a expertise da Agência, coube à Brandstorm tratar da modalidade que dá razão à sua existência: o Branding.

Neste trecho da trajetória, após tantas reviravoltas, uma lição se destaca das demais: a de que todo esforço, toda entrega, converge para um único fim – o registro de nossa presença neste mundo. Embora todos acabem deixando um pouco de si ao transitar por esta vida, poucos são os que entendem que mais importante que deixar algo é deixar algo que marque.

A Brandstorm compreende como nenhuma outra agência esse fato – e em 2013 decidiu compartilhar os frutos dessa reflexão com seus clientes... instituindo o “Livro Azul”.

Mais que um Manual da Marca, o Livro Azul é o registro desse relacionamento entre a empresa-cliente e a nossa agência. Não um “registro de atividades” – mas a documentação da experiência proporcionada ao cliente, durante a construção ou a gestão de sua Marca. Como uma obra de arte feita a quatro mãos.

O case da Multinacional M.A.C exemplifica com exatidão isso.
Uma empresa inserida no segmento de cosméticos, ela procurava desenvolver uma nova marca voltada para a maquiagem feminina. A intenção da M.A.C era a de que essa marca gerasse uma linha de produtos sustentáveis, ligados à Floresta Amazônica. Seus estudos de mercado apontavam para a viabilidade de uma inserção no segmento a partir da Região Metropolitana de Campinas.

E é onde o relacionamento entre a M.A.C e a Brandstorm começa.

E é também aqui que nasce a Marca Zoé... cujo Livro Azul traz, entre outras coisas, a Identidade Visual e a Estratégia de Mídia realizadas pela Brandstorm para ela.







NO FUNDO DA XÍCARA

Nós da Agência Brandstorm nos deparamos com dois caminhos ao fim de nossas pesquisas sobre a revitalização da Identidade de nosso empreendimento: a) seguir pelo uso indiscriminado dos mecanismos de “convencimento” pura e simplesmente – mecanismos apontados com a descoberta do Sujeito Ontológico... ainda que tais mecanismos sejam extremamente eficazes; b) enquadrar esses mecanismos num contexto mais humano, mais condizente com nossa visão de como uma Agência de Publicidade deve interagir com sua clientela... e para isso conjugar a técnica à missão de valores, num todo coeso e ético.  

O raciocínio era simples: se Branding implicava em trabalhar a representatividade do empreendimento (através da Marca), então nada mais justo do que estender essa vivência também às empresas-clientes de nossa Agência. Porque, se bem entendido o processo, a Marca atinge tanto a empresa quanto o consumidor.

A empresa não é auto-suficiente, ela precisa de orientação quanto à inserção de seu nome e de suas aspirações no Mercado – e será a Brandstorm a encarregada de transmitir a segurança que a empresa busca ter em suas decisões.

Assim, analisando os serviços oferecidos pelas concorrentes diretas de nossa Agência, percebemos que o enfoque sempre cai sobre o consumidor – e nunca sobre a Marca e a Empresa. E isso cria uma relação triangular defeituosa, onde existe apenas um vértice...quando deveriam existir três.

Logo, a Brandstorm talvez seja a única agência ciente de que seu trabalho não termina na apresentação da Marca ao consumidor – mas também engloba a apresentação da Marca à própria empresa que a possui...sob um novo olhar.

Pois uma Marca nada mais é do que a vivência de experiências relacionadas aos produtos, aos serviços e à reputação de uma pessoa física ou jurídica. Esse é o segredo: a palavra-chave VIVÊNCIA.

E vivência nos remete a compartilhamento... a troca de impressões.

Daí os rituais de partilha: o mecanismo que deu origem às primeiras relações familiares e tribais. Daí o aprimoramento dessas relações ter dado origem às primeiras manifestações religiosas. E como tudo isso começou ? Com um convite... para que o Outro se sentasse à nossa frente e falasse de si.

O lado lúdico da natureza humana vem disso: as cerimônias religiosas transformaram-se em comemorações festivas... onde a distribuição de comida e de bebida entre os convidados ganhava aos poucos um significado cada vez mais elaborado. Cada país e cada cultura da Terra tem o seu “partilhar” específico: no caso do Povo Brasileiro... esse compartilhamento gira em torno do Café.

Ana Luiza Martins, em seu excelente livro “A História do Café” (Editora contexto), nos brinda com informações sobre esta fruta vermelha que nasce da flor branca e perfumada do coffea arábica:

O hábito de tomar café como bebida prazerosa, em caráter doméstico ou em recintos coletivos, deslancharia a partir de 1450. O produto era apropriado para a cultura árabe-islâmica, pois vinha ao encontro dos preceitos religiosos do islamismo ditados pelo Alcorão, que condenava bebidas alcoólicas. A princípio, um de seus consumos correntes foi entre os filósofos sufis, que, ao tomá-lo, permaneciam acordados para a prática de exercícios espirituais. Ao longo do século XVI, os árabes ampliaram as plantações em face do interesse pela bebida que atraía pelo teor excitante, pela proveniência oriental e pelo seu potencial de comercialização. Em 1520, a região de Moka, principal porto do Iêmen, foi responsável por um dos maiores cultivos do produto no mundo árabe. E seu porto, o maior exportador. Cabe à Turquia, contudo, o pioneirismo do “hábito do café”, que ali se popularizou e transformou-se em ritual de sociabilidade. Na luxuosa capital Constantinopla, centro cosmopolita implantado estrategicamente entre três continentes, com população expressiva e que abriga palácios e mesquitas requintadas, surgiu o “Café”, estabelecimento aberto ao público. Data de 1475 a abertura daquele que é considerado o primeiro Café do mundo – o Kiva Han – marco do consumo generalizado da bebida. Desde então, tomar café passou a ser ritual que se propagou pelo mundo afora. Em 1574, os Cafés do Cairo (Egito) e de Meca (Islã) eram locais procurados, sobretudo por artistas e poetas. Em Meca, cidade sagrada para os muçulmanos, a sudoeste da Ásia, em direção à qual se devia rezar cinco vezes ao dia, ingeria-se a bebida enquanto se exclamava 116 vezes: “Ya Kawi”. Assim, impregnada na cultura do mundo islâmico, a bebida foi absorvida até mesmo pela legislação turca. Sabe-se que as esposas podiam pedir divórcio caso o marido não provesse a casa de uma cota de café.


Como se vê, muita coisa se esconde no fundo de uma xícara de café.

Uma vez coligidas essas informações, interagir com os clientes de nossa Agência adquiriu contornos teóricos mais nítidos. Um dos desdobramentos destas reflexões foi a tomada de contato com os trabalhos de Daniel J. Eldeman, proprietário da StrategyOne.

Seus insights sobre os “mental marketplaces” nos ajudou a redefinir o alcance da Marca Brandstorm. Ela originalmente estava embasada nos seguintes termos, muito bem definidos por nossa executiva de contas Flávia Matos:

Como signo de comunicação para compor a arte do logo da Brandstorm,  foi escolhido o guarda-chuva azul com a finalidade de linkar o planejamento visual com os princípios e diretrizes de nossa agência. Partindo do trocadilho que formou o nome da agência- brainstorm (tempestade de ideias) para brandstorm (tempestade de marcas) - o que justifica o guarda-chuva aberto sob o nome da agencia, é o significado do próprio símbolo, que é utilizado quando há uma tempestade a ser enfrentada - o de proteção. Assim, o guarda-chuva azul da BrandStorm figura em nosso logo para oferecer proteção contra a “tempestade” -- que em um outro contexto pode ser considerada a competição ou a disputa de mercado com outras brands. Esse é o motivo para o guarda-chuva figurar no logo de forma aberta- em atividade, pronto para enfrentar qualquer tormenta- e não fechado -- inativo, parado, sem utilidade. A ideia aqui é demonstrar que ele está aberto para ampliar a imagem de extensão e área de ação; de braços longos, de capacidade de abraço e acolhimento fortes e seguros, de mobilização para proteção total para quem está sob nosso guarda-chuva. A cor azul celeste foi escolhida por conta da sensorialidade que induz ao status de estabilidade, profundidade, lealdade, confiança, sabedoria, inteligência, verdade, generosidade, tranquilidade, integridade, entre outras sensações positivas.

Não seria exagero dizer que o Logo da Agência Brandstorm cumpria com uma função análoga à do Café: congregar em torno de si as pessoas, suas histórias e seus sonhos. Mas segundo as diretrizes dos mental marketplaces não adiantava levar em conta apenas a forma como nós, seus integrantes, gostaríamos de apresentá-la ao mundo – devíamos compreender esse mundo no qual a Brandstorm se encontrava inserida.

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) delimita um público-alvo específico, condicionado por expectativas e condições sui generis. Ela foi criada pela Lei Complementar n. 870, de 19/06/2000, sendo a mais nova do Estado de São Paulo. É formada por 19 municípios: Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte-Mor, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d’Oeste, Santo Antônio da Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo. Todos ocupam uma área de 3.348 km2, o que corresponde a 1,3% do território paulista.

Nos últimos anos, a região de Campinas vem ocupando e consolidando uma importante posição econômica nos níveis estadual e nacional. Essa área, contígua à Região Metropolitana de São Paulo, comporta um parque industrial moderno, diversificado e composto por segmentos de natureza complementar. Possui uma estrutura agrícola e agroindustrial bastante significativa e desempenha atividades terciárias de expressiva especialização. Destaca-se ainda pela presença de centros inovadores no campo das pesquisas científica e tecnológica.

Em Campinas os efeitos da estagnação econômica no país entre os anos de 1980 e 1990 expressam um paradoxo. Conhecida como “Vale do Silício”, referência à região do Estado da Califórnia, EUA, por seu nível de renda, por concentrar indústrias de alta tecnologia (informática, telecomunicações, química fina e biologia molecular) e pelos seus centros de ensino e pesquisa que, ao lado de sua localização estratégica, asseguram elevado potencial de desenvolvimento econômico. Seu dinamismo é evidenciado pela capacidade de atrair investimentos produtivos diversificados, especialmente de maior complexidade tecnológica: equipamentos para telecomunicações, informática e eletrônica para autopeças. A região de Campinas tornou-se o 2º. pólo industrial do país e está entre as 10 principais regiões do Brasil, perdendo apenas para São Paulo.

E o que isso significa para a nossa Agência ? Que Campinas e sua Região Metropolitana é um fervilhar de histórias... sendo escritas a todo tempo, das mais variadas formas. Se a Brandstorm quer fazer parte de algumas dessas histórias, deve ampliar a sua metodologia de abordagem.

Antes a Agência era o marco divisor, um fator de proteção – por isso o Guarda-Chuva se situava no meio do nome, entre a “marca” e a “tempestade”.


Agora a Brandstorm pretende consolidar seu nome, deixando claro o que oferece em termos de diferencial: não só proteção (o guarda-chuva), mas também destaque (o raio) à marca do cliente... através da possibilidade deste escrever sua própria história (a ponta de lápis na qual termina o raio). A Brandstorm é a mediadora entre a empresa e a assinatura que esta deixa.




A mudança na tonalidade da Cor Azul da Logomarca reforça essa intenção: mais que enfocar na Tempestade, e no azul-escuro de um dia chuvoso, busca-se reproduzir a sensação de calma e enlevo de lugares paradisíacos, com um fundo azul-turquesa. 


E como se sabe, nada melhor do que estar em um ambiente tranquilo, onde se possa ter uma boa conversa... regada a uma saborosa xícara de café.

O QUE EXPLICA A PUBLICIDADE ?

A construção da Identidade de uma Agência de Publicidade vai se consolidando aos poucos; enquanto as campanhas ocorrem, trazendo o aprendizado de novas idéias e novos métodos. 

Com a Brandstorm não foi diferente: as suas campanhas anteriores deixaram lições marcantes. Aproximar a Faculdade Veris a seus alunos... e promover a devida homenagem à vanguarda modernista de 1922 ajudou a Brandstorm a confirmar certezas e ampliar indagações.  

Novas questões foram levantadas.

Haveria um modo de nortear o desenvolvimento da Agência, segundo princípios imutáveis ? 

Haveria um jeito de isolar o Fenômeno Publicitário daquilo que é acidental e acessório ?

Qual é o alcance real da Publicidade na vida das pessoas ?

A Brandstorm é, por definição, uma agência especializada em Branding... e isso guiou nossas pesquisas na busca por respostas. Descobriu-se que tudo gira em torno dessa palavra-chave: Marca.

Marca é a representação simbólica de tudo o que está ligado a uma empresa: seus valores, suas ações, aquilo que ela oferece ao consumidor, o quanto ela agrada seus clientes. A representação simbólica resumida a um sinal conciso, geralmente gráfico, como o Logo da Empresa.  Como uma moeda, essa tomada de contato entre os consumidores e a empresa possui dois lados. 

David A. Aaaker possui dois termos para o entendimento dessa relação empresa-consumidor: a) Identidade da Marca, b) Identidade Expandida. O primeiro trata da essência atemporal da marca, que lhe confere sentido, finalidade e significado... e o segundo termo fala de elementos que proporcionam à marca uma determinada textura (elementos visíveis, ligados à estética), e um sentido de integridade (elemento relacional, ligado à ética).

Ou seja, ao entrar em contato com uma empresa o cliente dela vai construindo em sua mente a Reputação que ela conquistar com ele – seja naquilo que é objetivo, tangível (produtos e serviços), seja naquilo que é de mensuração subjetiva, intangível, como a atmosfera (agradável ou não) que envolve esse contato. E assim, a um só tempo o consumidor vai formando a Identidade Nuclear e a Identidade Expandida da empresa. Como o Branding trabalha esses dois aspectos (essas duas formas de Identidade), ele apresenta uma variedade significativa em sua tipologia: existindo tantos tipos de Branding quantos forem os mercados a serem alcançados.

Daniel Goleman nos informa sobre essa ligação entre o Branding e a constituição de nossa natureza humana:

A parte mais primitiva do cérebro, partilhada por todas as espécies que têm um sistema nervoso superior a um nível mínimo, é o tronco cerebral em volta do topo da medula espinhal. Esse cérebro-raiz regula funções vitais básicas, como a respiração e o metabolismo dos outros órgãos do corpo, e também controla reações e movimentos estereotipados. Não se pode dizer que esse cérebro primitivo pense ou aprenda; ao contrário, ele se constitui num conjunto de reguladores pré-programados que mantêm o funcionamento do corpo como deve e reage de modo a assegurar a sobrevivência. Esse cérebro reinou supremo na Era dos Répteis: imaginem o sibilar de uma serpente comunicando a ameaça de um ataque. Da mais primitiva raiz, o tronco cerebral, surgiram os centros emocionais. Milhões de anos depois, na evolução dessas áreas emocionais, desenvolveu-se o cérebro pensante, ou “neocórtex”, o grande bulbo de tecidos ondulados que forma as camadas externas. O fato de o cérebro pensante ter se desenvolvido a partir das emoções revela muito acerca da relação entre razão e sentimento; existiu um cérebro emocional muito antes do surgimento do cérebro racional.


Em outras palavras, a nossa habilidade de compreender racionalmente o mundo surgiu sobreposta a uma compreensão emocional dele – anterior ao equipamento racional e solidamente estabelecida. Todas as percepções a que nossa mente tem acesso...cada detalhe na textura de uma folha de papel, cada tonalidade apresentada pela grama ao pôr-do-sol, os odores do ambiente, as microexpressões presentes no rosto das pessoas numa fila de banco...tudo isso e muito mais é filtrado pelo cérebro segundo o critério de RELEVÂNCIA. 

Para isso ele, o cérebro, se utiliza do S.A.R. – Sistema de Ativação Reticular – que junta todos esses pedaços de informação, transformando-os em Memórias. As memórias são normalmente criadas quando a informação do S.A.R. é enviada ao Corpo Amigdalóide, onde é dado um peso emocional a cada memória antes de ser direcionada ao Hipocampo.  A chave de tudo é a relevância emocional: descobriu-se que, para que a funcionalidade do cérebro se mantenha sem problemas, ele reprime lembranças através de emoções ruins, mal resolvidas. Assim não há sobrecarga de informação.

Agora, o nó górdio da questão está aqui: na função do Hipocampo – ele é o responsável por transformar memórias de curto prazo em memórias de longo prazo. Ele decifra as percepções colhidas pelo cérebro conferindo a elas um significado semântico. Ou seja, o Hipocampo só se preocupa com a informação que o Corpo Amigdalóide achar importante.

Não é preciso muita argumentação para se destacar aqui uma evidência importante: se é de senso comum que todas as pessoas (consideradas sadias) sabem o que é uma “memória”...também é de senso comum (tácito) que nossa consciência é independente de nossas memórias – existe o registro das vivências, mas existe também o Observador Interno desse registro: é a ele que chamamos de “nosso Eu”. O grande segredo do sucesso do Branding é que esse “Eu” (que aqui chamaremos de Sujeito Psíquico) não existe por si só – ele existe em relação a algo. Ele é a “observação” (diriam alguns, a testemunha) desse algo: o Sujeito Ontológico. Ele é “sujeito” por ser um Outro (pois estamos numa situação emocional, que estabelece relacionamentos sentimentais)...e é “ontológico” por sintetizar em si a Essência nuclear da Realidade para o Sujeito Psíquico.

É como se o ser humano, ao interagir com uma coisa, passasse um pouco de sua “humanidade” para ela: um cão nunca será só um cão – muitas vezes é mais um membro da família; uma personagem marcante de uma obra literária significativa não será só uma descrição textual muito bem feita – mas um amigo, um ídolo, um guia pessoal. O Sujeito Psíquico deu nascimento ao Sujeito Ontológico: daí a prosopopéia. O Sujeito Ontológico “clássico”, o mais facilmente reconhecível, é o Mito.

Todos os grandes mitos do imaginário religioso trazem em si um “roteiro” por onde o Sujeito Psíquico irá desenvolver aquelas habilidades que ainda lhe faltam ter. Esse roteiro é a chamada “Jornada do Herói”, um conceito popularizado por Joseph Campbell. Ele explica o sucesso (ou a ausência dele) presente nos enredos dos romances, das histórias infantis, dos filmes de cinema, etc. Em literatura se considera a eficácia da Jornada do Herói como o “esqueleto” ideal de uma boa história porque ela apresentaria “altos-e-baixos” – e assim, as reviravoltas pelas quais passa o herói fariam o interesse do leitor andar em espiral (retomando na próxima etapa a intensidade da etapa já vista, reforçando-a). O que força o Sujeito Psíquico a mergulhar cada vez mais fundo na mensagem proposta pelo livro, ou filme, a um ponto onde é impossível discernir quem é o visitante-espectador...e quem é o participante-protagonista.

A cada passo ou desventura do Herói o espectador-leitor vai se identificando mais e mais às motivações e aos problemas apresentados... a um ponto tal que muitas vezes o enredo absorve por completo quem o presencia: em Jerusalém não é raro encontrarmos “messias” perambulando pelas ruas, crentes de eles são o Cristo vivo. O livro “Os sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe, causou uma leva de suicídios de jovens sensibilizados pela onda romântica de 1774.

E é por isso que a Brandstorm é uma agência sui generis dentre todas as demais, integrantes da Região Metropolitana de Campinas – ela consegue identificar qual é o Sujeito Ontológico em questão a ser trabalhado numa campanha publicitária. E sua relação com o desempenho do Branding utilizado.

Quando não se leva em conta esse aspecto científico da Publicidade, o máximo que as empresas conseguem em termos de lucratividade é...alimentar a Inflação.  O Corpo Amigdalóide é responsável pelo gerenciamento do medo, e das respostas automáticas de nosso corpo a situações de perigo. É ele quem nos ajuda a perceber pistas que nos indiquem perigo – causando um sentimento de apreensão, de ansiedade – seja esse perigo real, concreto...ou imaginário.

A superexposição das pessoas a produtos e serviços, conjugada com a cultura ocidental do “vencedor” (que deve a todo custo manter seu status social)  cria ansiedade a níveis extremos – que se traduz em picos ou ondas de compra maciça: e temos então a Inflação. As famosas “bolhas” (do vale do silício, do setor imobiliário, etc.,...) ocorridas nos Estados Unidos são o resultado indireto disso: o uso mal-direcionado do Corpo Amigdalóide.

E é aqui que muitas agências de publicidade falham de começo: sobrecarregando com comerciais e propagandas o público-alvo até a exaustão...ao invés de produzirem conteúdo relevante. Um single bonitinho é interessante se escutado no máximo meia dúzia de vezes – mais que isso contribui para que o ouvinte se irrite com a fonte desse “barulho”. 

O grande milagre com as empresas “Top of Mind” é que elas não só atingiram o Sujeito Psíquico de seus consumidores-alvo, como conseguiram evitar ser rejeitadas pelo Corpo Amigdalóide dos cidadãos expostos à sua mensagem. Mas elas o fizeram sem saber como aconteceu: não conseguiriam reproduzir esse sucesso mais que três vezes, pois chegaram lá quase que por acaso. Em termos de comunicação aprenderam a manter o sucesso, mas não a forma de fazê-lo nascer do zero...com garantias suficientes de que vá vingar.

E é aqui que o Branding atua: é possível fazer da empresa uma lembrança maravilhosa para os consumidores: sem resistências ou rejeições.

E é aqui que as perguntas são solucionadas: o Fenômeno Publicitário é a manifestação do Sujeito Ontológico -- e ele torna a influência da Publicidade na vida das pessoas algo extremamente poderoso. 


Portanto, trabalhar o Sujeito Ontológico durante as campanhas publicitárias só tornará tudo mais produtivo e rentável, para a agência e para seus clientes. E esse enfoque sobre o Sujeito Ontológico é o que traz à lume princípios científicos nos quais se basear ao entrar em contato com a Mente dos consumidores.

sábado, 25 de maio de 2013

MAIOR QUE O SONHO




Publicitário é aquele que mostra ao cidadão comum não o que sonhar, mas como sonhar -- e é então que este pacato cidadão se transforma em consumidor. Não se trata de produtos a serem encaixados no mercado... ou de serviços que mudarão a forma como as pessoas mantém contato umas com as outras. Não se trata de premiações em Cannes, ou de figurar entre os dez mais da Meio&Mensagem.
Não: se trata de sonhos.

E a graça com os sonhos, é que eles não tem razão de ser se vierem desacompanhados -- há sempre um acessório... algo que lhes acompanha e por isso lhes confere sentido. Nenhum sonho é uma ilha.
A grande sorte de quem participa das atividades de uma Agência de Publicidade, com seu universo todo diferenciado, é aprender muito cedo o valor da construção coletiva de sonhos. Daí a equipe Brandstorm ser esse todo coeso... e portador de significados que extrapolam o simples exercício profissional da ciência da Comunicação.

Porque a Brandstorm, em si mesma, carrega consigo a manifestação de muitos sonhos.

O sonho de estar dentro dos prazos.
O sonho de fazer as reuniões acaloradas produzirem frutos.
O sonho de criar o inédito e o original.
O sonho de trocar insights.
O sonho de aprimorar as habilidades adquiridas com a prática do dia-a-dia.
O sonho de superar qualquer desafio interposto entre o hoje...e o amanhã.

...e o sonho de que o Hoje nunca acabe.

De todos os possíveis sonhos, este último é o mais complexo: frágil como a pétala de uma orquídea rara sob o rigor do inverno...intenso como os últimos minutos de um fim-de-tarde inesquecível.

Nós da Brandstorm aprendemos muitas coisas no decorrer destes anos... e uma delas é que a orquídea é mais forte que a neve...e que não há "minutos finais", seja do que for -- a Vida segue incólume em sua fluidez e força arrebatadora. E que a cada curva que o rio faça, ele o faz mais forte, renovado... mais apto a tornar-se Mar.

E por que "Mar" ? Porque nele tudo atinge a totalidade -- ele abrange em si toda a sua própria trajetória. Cada porção dele é um resumo de tudo o que o anima: Vida, Energia, Vibração, Renovação. E, se nesta metáfora for permitido comparar cada sonho a um rio, o Mar seria não só a junção de todos os sonhos que convergiram para ele -- mas algo muito maior que suas partes contituintes.

Algo cuja gratidão a essas partes sempre será eterna: pois cada curva, de cada rio, deu nascimento à tremenda Força que se encontra contida no interior do Mar.

Se hoje a Brandstorm é oceânica em sua multiplicidade de significados, isso se deve à atuação de dois de seus integrantes mais ilustres: Bruno Victor Cavassani Silva e Mirian Leiner Diehl... que atualmente seguiram com seus sonhos para além do Horizonte de nossa Agência.  O Mar, em sua natureza aquosa, não pode ser estático...senão deixa de existir: suas águas devem ir e vir, irrigando e vivificando tudo que encontram. E... quando for a hora... tornar-se nuvens.

Novos ares chamaram os dois... desafios diferentes hoje instigam seus corações.

E é bom que seja assim: as melhores equipes são celeiros de talentos, através dos quais destinos incríveis são tecidos. A beleza do Mar está justamente nisso -- o segredo é transitar nele, e fazê-lo um amigo a mais na longa travessia. Se às vezes o Mar parece calmo demais, basta olhar com atenção para as vagas que arrebentam na superfície: pois ali se reflete algo maior que todos os sonhos.

A Amizade.

A Agência Brandstorm deseja a ambos muitas alegrias em sua nova caminhada.


VITÓRIA MORAL E VITÓRIA INVISÍVEL

1685 -- Johan Sebastian Bach nascia na Turíngia, vindo a falecer praticamente cego em 1750, em um relativo anonimato fora dos portões do local onde residia --  apesar de compor mais de 1100 peças...entre oratórios, concertos, cantatas, paixões... obras-primas da música sacra. Ele revolucionou a História da Música ao desagregar a música do canto e da dança -- e com isso permitiu à música adquirir vida própria.  Foi preciso que um cidadão anônimo com as iniciais BWN compilasse toda a produção desse compositor barroco para que somente em 1829 Félix Mendelssohn ressuscitasse Bach para o mundo ao apresentar sua "Paixão Segundo São Matheus". O ritmo e a melodia tão bem tratados por Bach influenciaram desde os compositores modernos, como Villa-Lobos, até bandas de Rock Progressivo, como a banda inglesa Procol Harum... em sua faixa "A Whiter Shade of Pale", inspirada na "Tocata e Fuga em Ré menor para Órgão".

1928 -- Bardoli, Índia: Mahatma Gandhi organiza uma campanha de Satyagraha contra o aumento de 22% feito pelo governo britânico. As pessoas se recusaram a pagar esses impostos, sofrendo represálias estatais. Satyagraha significa "força da verdade", simbolizando a desobediência civil pautada na evidência óbvia de atos injustos praticados por governos ou governantes contra a população -- como uma forma de "revide" pacífico, baseado na não-violência, ou ahimsa, "sem dor". Para um praticante da Satyagraha basta a Verdade como apoio nas reivindicações sociais: ela por sí só tem a força centrípeta necessária para dar vazão a mudanças na atitude dos opressores. Após vários meses de resistência pacífica, o governo britânico não teve outra saída a não ser libertar os prisioneiros, devolver as terras e propriedades confiscadas e cancelar os impostos. Décadas mais tarde a Inglaterra abandonaria sua pretensão de dominar a Índia em definitivo. 

1984 -- Maratona Feminina de Los Angeles: a suíça Gabriele Andersen, de 39 anos, chega completamente extenuada à linha de chegada. Seu esgotamento não é só explícito: é heróico -- sua persistência em cumprir com o percurso até o fim a tornou a "vencedora moral" da competição. 


Estes casos, entre muitos outros, nos incentivam a refletir sobre dois tipos incomuns de "vitória": a Moral e a Invisível. E qual a diferença ? Simples: a conclusão. 

Se Bach tivesse ficado no anonimato...sua vitória teria sido apenas moral. 
Se Gandhi não tivesse realizado uma "revolução silenciosa"... seria somente possuidor de "metade" do feito heróico -- mas como o processo a que deu início chegou a se consolidar...então sua vitória foi invisível: pois seus contemporâneos ainda não tinham olhos treinados para enxergarem os mecanismos de mudança em ação, por baixo da aparente fragilidade de seus métodos. 

Nem todas as vitórias são reais... nem todas as derrotas são derrotas. 

E isso deve ficar claro quando nos referimos à Semana de Arte Moderna.

Eles venceram: o Clube dos Cinco triunfou.

Quando se pretende alterar a concepção cultural de um povo deve-se acabar com os alicerces carcomidos... ou apresentar novas opções: novos alicerces. E, neste caso, é claro que comparações são inúteis. O novo não se encaixa no vão deixado pelo velho -- daí que julgar essa "diferença" como algo prejudicial é ilógico. Deve-se entender o novo dentro do contexto inusitado que ele traz consigo. 

Por isso seu valor é intrínseco.

Esse foi o grande desafio que a Agência Brandstorm encontrou quando o MIX do 4º Semestre teve início: as idéias formuladas, as questões levantadas... os ideais defendidos pelos Modernistas de 1922 indicavam a necessidade de uma nova abordagem. Em que pese o temperamento de Oswald de Andrade, extrovertido e ávido por uma platéia particular, a Filosofia que o Clube dos Cinco tentava difundir era frontalmente contrária a holofotes. A própria "antropofagia", movimento inaugurado pela dupla Tarsila-Oswald, reconhecia que a "originalidade" basicamente não existe quando se fala em criações culturais: tudo é um amálgama de tudo.

Hiperbolizar o próprio valor seria não só errado, como ingênuo, segundo os Modernistas -- o verdadeiro artista serve como um intermediário entre a arte que ainda não modificou...e a arte que alterou com sua influência direta. O importante aqui é a mensagem que se tenta introduzir nessa "mistura": ela deve ser apreendida em sua total intensidade pelo espectador da obra. Daí o recurso empregado pelo poema OS SAPOS: aparentemente ilógico, prende a atenção do ouvinte justamente pela abordagem inusitada... justapondo um contexto novo ao contexto já consagrado pelo classicismo. Seu sentido é o sentido que a ele se dá: as obras modernistas primam pela experimentação delas -- são oportunidades para que essa mensagem seja vivenciada. Ou seja, é preciso a participação do espectador: ele altera a obra ao entrar em contato com ela.

Em suma, estas eram as condições nas quais a Brandstorm deveria se movimentar, produzindo um espaço onde a SEMANA DE ARTE MODERNA pudesse ser mais uma vez vivificada. 

Mas como elaborar isso e ao mesmo tempo ser fiel à Filosofia modernista ? 

A resposta estava com Tarsila do Amaral.  

Existem muitas “Tarsilas” dentro daquela cuja figura ficou ligada para sempre à Semana de Arte Moderna de 1922: cada  uma a “fatia” da mulher inteira, completa, que tanta admiração causou no que fez, no que disse, no que decidiu...no que se tornou. Mas, no âmbito do universo modernista, Tarsila do Amaral também se tornara um “híbrido” – metade ela mesma, a outra metade parte Oswald de Andrade; ficando ele igualmente marcado por uma “meia-identidade”. E ambos, no cenário da efervescente São Paulo da década de 20, ficaram conhecidos como um só ser: Tarsiwald...como Mario de Andrade apelidara o casal. 

A Tarsila-intelectual encantava multidões de admiradores com a beleza de sua alma, como vimos. E, de uma certa forma, talvez pudesse estar alguns centímetros acima de Oswald em estatura não só intelectual, mas artística também.

A Tarsila-pintora era uma artista plástica de reconhecida importância no cenário nacional -- sua carreira artística, composta de seis fases (de Vanguarda, Impressionista, a do Pau-Brasil, a Antropofágica, a que englobava Temas Sociais e a Neo Pau-Brasil) registrou a adolescência da história artística tipicamente brasileira

Mario de Andrade, em artigo para o Diário Nacional, ressalta:

"Por dois lados Tarsila é uma das figuras mais importantes na evolução da pintura nacional. Pela primeira vez com ela terminou a confusão entre nacionalizar a pintura e pintar o nacional. [...] Tarsila ajuntou a esse pintoresco do assunto, uma verticalidade nova que consistia em buscar, dentro do fenômeno humano do país as suas tradições profundas de cores e de formas, especialmente circunscritas até então nas obras do povo e nas manifestações objetivas da nossa religiosidade. [...] Estes são os maiores méritos da maior pintora do nosso Modernismo. Aprofundou a nacionalidade da nossa pintura, ajuntando ao pitoresco brasileiro, as cores e formas do nosso humano tradicional ao mesmo tempo que converteu o assunto brasileiro a uma expressão de plástica."     


O próprio Oswald de Andrade reforçaria essa concepção sobre Tarsila, ao escrever um artigo (1945) em “Aspectos da pintura através de Marco Zero”:

"Se me perguntassem qual o filão original com que o Brasil contribui para este novo Renascimento que indica a renovação da própria vida, eu apontaria a arte de Tarsila. Ela criou a pintura “pau-brasil”. Se nós, modernistas de 22, anunciamos uma poesia de exportação, ela foi quem ilustrou essa fase de apresentação de materiais, plasticizada por Di Cavalcanti, mestre de Portinari. Foi ela quem deu, afinal, as primeiras medidas de nosso bárbaro sonho na Antropofagia de suas telas da segunda fase,“A Negra”, “Abaporu”, e no gigantismo com que hoje renova seu esplêndido apogeu."


A Agência Brandstorm seguiu a trajetória de Tarsila, e percebeu que podia fazer de uma de suas obras mais características -- o quadro "São Paulo 135831" -- o objeto do Espaço de apresentação da Semana de 22. E fazê-lo de forma a ser fiel àquilo que o Clube dos Cinco propunha.



Assim, os trabalhos concentraram-se em algo bem "modernista": transmitir ao espectador a experiência de estar dentro do quadro ! De fazer parte dele ! 




E como não podia deixar de ser, só colocar o espectador dentro da pintura não bastava -- era preciso fazer esse espectador interagir com a Mensagem modernista por trás dela. O que foi feito com o uso de um quebra-cabeças, que era ao mesmo tempo a Logomarca da apresentação. Para honrar a tradição artística de Tarsila, essa Logomarca foi concebida e pintada à mão por uma das Brands mais talentosas: Jessica Rojas. 



O espírito da obra pedia mais: e nada melhor do que os próprios Oswald e Tarsila a acompanhar os visitantes nesse passeio onírico. Bruno Victor e Mirian Diehl  representaram os ilustres personagens.



A característica "artesanal" do cenário montado reflete a antropofagia mesma, naquilo que ela tem de "contato direto com a terra" -- sem firulas, nem enfeites que tornem essa relação artificial. 

Assim, a Agência Brandstorm defendeu com honra e orgulho um conceito e uma filosofia a muito esquecidos: a de que nada deve estar acima da coerência. 

Se quando no Teatro Municipal o poeta Ronald de Carvalho leu OS SAPOS, de Manuel Bandeira, não houve aplausos... eles vieram em grande número depois.

E com mais vigor.

CONSTRUINDO UM PAÍS EM UMA SEMANA

Nos manuais escolares, toda vez que alguém se refere à “Semana de 22” é feita uma pequena lista de cinco nomes, com um esboço raso sobre os feitos dos detentores ilustres deles. E então, Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Menoti Del Picchia, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral são apresentados ao leitor, que quase sempre acaba percebendo ao longo do que lhe é informado que esse “Clube dos Cinco” se resumiu a defensores de uma idéia...que não vingou. 

Como disse um crítico da época, Franklin de Oliveira, a Semana de Arte Moderna “foi uma revolução que não saiu dos salões.” Infelizmente foi esse o enfoque que venceu e perdurou: e hoje, o evento que marcou os Cem anos da Independência do Brasil é tido em conta de mera curiosidade histórica. O que vai contra tudo o que já se fez neste país, na defesa de sua “gloriosa jornada histórica” – pois o comum é um evento simples, destituído de complexidades ou salamaleques, ganhar ares de “universal”, “grandioso”.

Assim foi com o afamado Grito da Independência, que viu um D. Pedro com problemas intestinais, montado em uma mula baia, decidir romper laços com a Corte Portuguesa, acuado, apenas três meses após pedir ao pai – entre lamúrias e lágrimas – que pudesse abandonar a colônia, com seus aborrecimentos presentes...e “dissabores futuros maiores ainda”. 

Daí que é difícil compreender porque diminuem o valor daqueles dias de Fevereiro de 1922. E o segredo está aí: sua importância não nasce daqueles sete dias, mas dos frutos que puderam surgir a partir das reflexões suscitadas ali. Esse evento foi a primeira tentativa pública, neste país, na qual a intelectualidade procurou compartilhar com a sociedade sua visão do que deveria ser um Brasil Moderno, culturalmente falando.

E aqui importa definirmos com exatidão o que esse “culturalmente” trazia em seu bojo na época. Entender a Semana de arte Moderna implica em, antes de mais nada, explicar o fenômeno do progresso cultural brasileiro. E o Brasil, como muitos países, está sujeito a uma irrefutável constatação: o desenvolvimento de um país não ocorre aos solavancos – tudo é paulatino, gradativo.  A própria estética do Modernismo, como estilo artístico, surgiu após toda uma série de movimentos ímpares – cada um tentando trazer à lume um aspecto específico dessa Visão da “modernidade. 

O início do século XX deu curso a um fluxo de iniciativas criativas e intensas da interação entre Arte e Sociedade:

Fauvismo (1905), expressionismo (1906), cubismo (1907), futurismo (1909), raionismo (1911), orfismo (1912), cubo-futurismo (1912), suprematismo (1912), nãoobjetivismo (1913), vorticismo (1913), imaginismo (1914), dadaísmo (1916), neoplasticismo (1917), ultraísmo (1918), bauhaus (1919), espírito-novo (1920), pintura metafísica (1920), musicalismo (1920), a Neue Sachlichkeit (1922), manifesto dos pintores mexicanos (Siqueiros, Orozco, Rivera - 1922) e nova objetividade (1922).

Uma interação que acaba refletindo uma grande verdade: mudando o pensamento, tudo o mais acompanhará essa mudança. O delicado na questão, é que para o pensamento de um povo mudar, é preciso que haja um cenário favorável a isso. E nenhum cenário social surge de um dia para o outro -- o normal é que um país vá “amadurecendo” parte por parte...muitas vezes o que primeiro muda são as condições políticas, logo acompanhadas pela reciclagem da cultura dominante...que, por sua vez, irá forçar a transformação do aspecto econômico.  Com o Brasil foi assim: alguns grupos tomaram para si a tarefa de atiçar esse progresso o máximo que conseguissem, de todas as formas possíveis --  infelizmente (ou não) este país não faz de ideologias fogo em rastilho de pólvora. Novas ideias têm de ser enxertadas com esmero e cuidado no terreno pantanoso dos tradicionalismos, com seus mecanismos servis aos caprichos das elites.

As tentativas que tiveram início em Fevereiro de 1922 estavam sendo ensaiadas a muito tempo, e visavam construir um “sentido de Nação” na mente dos brasileiros. Uma identidade comum a todos os que viviam sob a égide do Cruzeiro do Sul.  A fórmula é simples: uma Nação é o produto de certos elementos psíquicos, agrupados em torno de símbolos capazes de estimular esses elementos ao longo das gerações, ou de promover a transformação desses elementos respeitando-se as tradições constituídas pelos fundadores do país. E, em que pese o contrário para alguns, a muito tempo é consenso que aqui só se manifestaram os elementos psíquicos errados – produzindo populações fadadas a fracassar socialmente. 

Desde a Primeira República o debate sobre a Identidade Nacional agitava a opinião pública. Creditava-se ao sucesso político do Velho Mundo o desenvolvimento científico decorrente de uma natural estima pela sofisticação cultural. Seu “caráter europeu” era mais propenso ao encanto pelas grandes coisas. Coisa que já era rara entre “as gentes” do Brasil colonial – Dom João, ao trazer a Corte para o Rio de Janeiro, também trouxe esparsa entre muitos navios toda a Real Biblioteca de Portugal – com mais de 60 mil volumes, e sem qualquer leitor em terras tupiniquins, estando quase sempre às moscas. 

Daí que era comum as discussões do período sugerirem que a solução para o Brasil era a troca do povo – para que se evitasse um “determinismo racial e climático”, num território tão grande e sujeito a zonas climáticas tão diferentes umas das outras. Era preciso acabar com isso: encontrar algo que servisse de catalisador de mudanças na mentalidade nacional.

Era preciso encontrar “o símbolo” nacional. As primeiras e insípidas tentativas cuidavam de revelar o “índio”, idealizado em sua pureza e intocado pelas mazelas do mundo – mas logo esse tema iria se esgotar, e as atenções se voltariam para o Caboclo. Ambos, índio e caboclo, aparentavam possuir uma bondade característica: eram “cooperativos”, um dos elementos-chave na construção de uma Nação empreendedora. O palco agora era do Sertanejo. Com Monteiro Lobato se inicia esse processo intencional de construção ideológica de uma Identidade Nacional, e é o Jeca Tatu, essa personagem preguiçosa e indolente, quem aglutinará esses esforços. A intelectualidade da época acreditava que os menos favorecidos não só estavam excluídos do processo “evolucionário-social”, longe dos mais básicos confortos materiais, como por conta mesmo dessa situação precária estavam condenados à própria miséria...uma vez que ela lhes retirava os recursos de saúde física e intelectual, necessários à saída desse círculo vicioso. 

E o Jeca Tatu demonstrava exatamente isso: se assim, tão desengonçado e livre de preocupações, o cidadão podia ser grandioso – quão maior não teria sido isento de suas limitações ? Ao contrário de outras personagens clássicas no gênero “sábio-idiota”, como o lendário Da Yu da mitologia chinesa, ou o enigmático Nasrudin, das parábolas sufis, o nosso brasileiríssimo Jeca não estava completo – era, apesar de sua estatura literária e artística, alguém aquém de seu potencial verdadeiro.

Apesar de não se poder dizer que havia alguém influenciando a ocorrência dos fatos, houve uma certa coerência nos acontecimentos para que um projeto “social” de “cura” da população marginalizada consertasse essa ausência de potencial. Por incrível que pareça, os fatos foram se encadeando uns nos outros de modo a tornar isso possível:

   a) primeiro tentou-se criar o mito dos Bandeirantes como símbolo da pujança de São Paulo e de estímulo do foco no Futuro (os livros didáticos publicados entre 1894 e 2006 retratam os Bandeirantes como heróis corajosos, no intuito de reafirmar o poder dos cafeicultores paulistas que com o fim da República, em 1889, se tornaram a elite política e econômica do país até fins de1920);
   b) em seguida, surgiu o movimento sanitarista (política de saúde promovida por Carlos Chagas, de 1919 a 1926);
  c) Mário de Andrade iniciava um projeto ambicioso: levar cultura às camadas menos favorecidas da população, para fazer com que o povo descubrisse a si mesmo ao saber das coisas do Brasil (começa em 1939 a Enciclopédia Brasileira que, graças à morte do idealizador em 1945, só veio a ser concluída em 2009, com 1200 páginas, em cinco volumes);
   d) no Rio de Janeiro nascia a manifestação popular tão apreciada pelos cultores dessa mudança: o Samba, carioca e nascido graças ao esforço do grupo boêmio da Rua do Ouvidor (intelectuais que estimulavam os novos experimentos musicais – dos quais saiu o magnífico Samba de Noel Rosa).

Estava recriado o imaginário nacional – novos símbolos tinham aparecido para dar suporte a esse “caráter psíquico” tão desejado pela intelectualidade.  Mas ainda restava o golpe de misericórdia.  E ele veio em 1911. Na revista Pirralho as composições de Juó Bananare satirizavam textos consagrados da literatura nacional. O estilo “macarrônico” do pseudônimo de Alexandre Marcondes Machado encontrou guarida para tal façanha nessa publicação fundada por Oswald de Andrade e Emílio Menezes. Não bastava afrontar os velhos conceitos, com o patrocínio do entusiasmo paulista: era preciso romper com os elos antiquados que a própria São Paulo tinha com o país – e nada melhor para isso do que se valer do “italianismo” quase onipresente na locomotiva do Brasil. 

Não só nas trincheiras pátrias acontecia essa batalha: na Europa das artes esculpidas ao gosto do classicismo milenar o Futurismo e o Cubismo floresciam sem restrições, inspirando certas mentes visionárias. Inconformado com os resultados de suas primeiras tentativas, Oswald de Andrade traria (1912) do Velho Mundo essas novidades, aliadas ao inusitado Verso Livre. A exposição de pintura expressionista do russo Lasar Segall em 1913... somada à tentativa, também expressionista de Anita Malfatti, em 1914, abriram caminho por entre os entraves da sensibilidade artística do público brasileiro... solapando o terreno para os promissores esforços de 1917. Nesse ano Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida e Menotti del Picchia apresentam inovações nas letras... e Anita volta à carga, desta vez merecendo a devida atenção da crítica. 

Em uníssono, o grande público valia-se de um porta-voz impetuoso...ninguém menos que o próprio Monteiro Lobato:
“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem normalmente as coisas e em conseqüência fazem arte pura (...) A outra espécie é formada dos que vêem anormalmente a natureza e a interpretam à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos de fim de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento...”

Em certa medida, ele estava certo ao ser rígido, pois a muito tempo a intelectualidade tentava implementar alguma “brasilidade” nas referências culturais do país...e Anita, que trazia consigo toda a influência da vanguarda européia, aos olhos de Lobato não ajudava em nada nesse plantio. Mas, como se sabe em agricultura...às vezes é necessário revolver bem o terreno para que as sementes possam encontrar aí sua guarida.

O impacto, antes comedido, em surdo crescendo, agora manifestava-se explicitamente – inclusive com o apoio da natureza. Os preparativos para a Semana estavam no início, artistas e obras encontrariam seu perigeu no Teatro Municipal de São Paulo... e o escritor Graça Aranha, hospedado no Grande Hotel da Rotisserie Sportsman, para organizar os afazeres, viu-se de súbito presa de uma força telúrica respeitável – na madrugada do dia 27 de Janeiro de 1922, um abalo sísmico com epicentro em Mogi Guaçu, chegou a 5,1 graus na escala Richter, abalando a Paulicéia Desvairada. O impacto estava pronto, definitivamente completo – após 58 abalos sísmicos, desde que a contagem oficial começou, em 1724.

Outros abalos iriam se somar a esses, de 11 a 18 de Fevereiro de 1922. Abalar era a palavra de ordem nesse evento – uma “semana” de oito dias, nada menos que 3 dias-apresentações, quase 30 participantes engajados em criticar o tradicionalismo mas se apresentando com o patrocínio dos Barões do Café, a exposição de idéias inteiras mediante leituras pela metade...além do incrível fato de ser um acontecimento com ideais revolucionários, extremamente contrário ao engessamento causado pelo Parnasianismo às artes e à literatura, porém pretendendo marcar época no templo do Classicismo: o Teatro Municipal de São Paulo.

A ironia é que todo o empreendimento da intelectualidade brasileira, que estava sendo posto em xeque naquela semana, teve um “grand finale” às avessas – tudo apontava para o clima de incompreensão que tomou conta da platéia. Parecia um projeto feito para naufragar...como se aquela Semana fosse um barco construído para afundar mesmo. Em suas memórias, Di Cavalcanti confirmaria mais tarde essa idéia: tendo por base a Semana de Deauville, na França, ele próprio sugeriria a Paulo Prado a realização de "uma semana de escândalos literários e artísticos de meter estribos na burguesiazinha paulistana". Ou seja, parecia que o propósito da coisa toda era causar impacto – e só. 

Mas...será que foi realmente essa a intenção ?

Nós da Brandstorm acreditamos que não.