sábado, 25 de maio de 2013

UM INTERREGNO NECESSÁRIO

"A MELHOR MANEIRA DE PREVER O FUTURO É CRIÁ-LO".
Peter Drucker



A palavra "interregno" em Latim designava originalmente a expressão "entre reinados" -- que tratava de dois momentos: a) a deposição ou morte de um monarca, 2) a assunção de um novo governante. Hoje a usamos para falar de um espaço de tempo compreendido entre dois fatos quaisquers. 

É preciso a calmaria antes que a Tempestade caia... para dar tempo à terra de se preparar para ser acariciada não mais pelo orvalho -- mas por algo mais potente: trovões produzem descargas elétricas benfazejas, que desanuviam os efeitos deletérios da poluição no ambiente; e chuvas torrenciais fazem às vezes de terraplanagem natural... onde o desnível do solo é corrigido para futuras colheitas brotarem do chão mais vigorosas ainda.  

Mas o interregno diz respeito também a um período de silêncio, onde são gestadas reflexões mais profundas e mais incisivas sobre as metas a seguir -- ou sobre as metas a serem deixadas de lado, para que maiores vôos sejam feitos com folga...sem tanto peso a ser carregado. 

Daí ele estar ligado ao CLÍMAX de uma estória no mundo ocidental: dentro da estrutura íntima dos roteiros-padrão de inúmeros contos e crônicas. Não é por acaso que a atividade publicitária corre em paralelo à Arte da Narrativa: à habilidade de se contar boas histórias. O Ser Humano é social por natureza, e essa característica lhe dá a necessidade de compartilhar experiências com seus semelhantes. É da necessidade dessa troca que surgiram as estórias -- desde as primeiras, partilhadas numa roda em torno da fogueira...até os Best-Sellers atuais.

Quase sempre o interregno é deslocado, hoje em dia, para o ponto imediatamente anterior ao grande desfecho da Jornada do Herói (difundida por Joseph Campbell) -- aquele instante onde a platéia prende o fôlego antes que o herói se salve do perigo.



Nas parábolas orientais, o Clímax acontece no início da narrativa... para a partir daí o conteúdo a ser transmitido receber toda a atenção do espectador-ouvinte. Os contos árabes introduziram uma mudança significativa nisso: existem reviravoltas no enredo...onde o Clímax vem a ser posto no meio da aventura. As hagiografias medievais, e os Bardos europeus, se encarregaram de deslocar para quase o fim da narrativa qualquer Clímax digno desse nome: ao fim das tentações o Santo-Herói era coroado de êxito em sua persistência por seguir o bom caminho... e as desventuradas personagens das Poesias de Galanteio e\ou de Feitos Heróicos sobreviviam apenas o tempo exato até ganharem o último beijo...ou de depararem com o monstro faminto. 

E aqui está o motivo do "quase" -- a Civilização Ocidental não sabe lidar com a noção de FIM: embora reconheçamos com Freud nossa "pulsão de morte", fazemos de tudo para mantê-la afastada de nós... de nossa lembrança. É a nossa costumeira rejeição a conclusões de qualquer tipo. Temos medo que o jogo realmente chegue a seu fim...e de que o espetáculo não volte a ser encenado no dia seguinte.

O futuro nos aterroriza, por estar rodeado de incertezas: é nele que essa "conclusão" acontecerá, mais cedo ou mais tarde...e nada nos dá garantias de que ela ocorra de modo favorável a nossos interesses.

As histórias hodiernas jogam com as expectativas do espectador ao introduzir na trama a possibilidade do vilão estar vivo ainda... Os blockbusters da indústria cinematográfica se especializaram em produzir "continuações" em série... Novas versões para os velhos "clássicos" ressuscitam batalhas épicas, promovendo em cada uma delas alternativas ao "final" tão conhecido... Desde que Alfred Hitchcock ensinou ao mundo da sétima arte o valor do Suspense (lição aprimorada por Stephen King) que a platéia sempre está à procura de mais, mais, mais...

... mais do mesmo.

Os grandes ícones do imaginário coletivo, de tão "reciclados", acabam surrados e esgarçados...perdendo a vitalidade tão característica. Daí a péssima idéia de alguns "remakes", como é o caso do filme Footlose.




Todas estas questões levaram a Agência Brandstorm a se manter afastada por quase um ano deste Blog. 

Se ser publicitário é estar "conectado" a tudo...e tratar todo tipo de informação como um indício útil para a evolução na qualidade do que faz... então tudo indicava isso: repensar a Agência a partir de sua Marca. Mas fazê-lo sem se valer de subterfúgios, como é comum num mercado especializado em Ícones, em Símbolos. 

No geral, procura-se preservar o conteúdo já consagrado... às custas das inovações implementadas.  Como a velha "fórmula" do "o antigo fica, com alguns acessórios modernos" -- uma equação que acaba distorcendo o que era sólido, e anulando os efeitos do que é apresentado como novo....e teoricamente, mais impactante. 

Raramente a reformulação de um Ícone resulta na potencialização efetiva do que sua parte antiga possui, ao mesmo tempo em que ocorre uma "harmonia" entre essa parte e as inovações introduzidas. 

No ideário ocidental, pode-se contar nos dedos as tentativas nessa área que tiveram algum sucesso. E deve-se à criatividade de profissionais de referência, como Peter David,  Frank Miller, e Mark Millar -- os idealizadores do "Clímax" para as histórias de anti-heróis como (respectivamente) Hulk, Batman e Wolverine. Nos três casos as personagens mais marcantes da mitologia pós-moderna são retratados em sua "velhice"... sem qualquer prejuízo do pano de fundo que os consagrou como ícones. 


O "clímax" proposto para eles potencializa não só suas trajetórias individuais, como também isola as características certas -- aquelas que permanecem eternas na mensagem que veiculam ao grande público. 

E isso vai de encontro à intenção da Brandstorm, como agência de publicidade: que o ganho de experiência não incapacite a costumeira habilidade em gerir os desafios. E que a sabedoria adquirida traga mais alcance ao sucesso visado. 

Que o Futuro deixe de ser tão nebuloso... e se transforme num aliado -- para que a Brandstorm possa escrever uma bela história junto a seus clientes e associados.


Nos próximos artigos tudo isso será detalhado.












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